Alckmin usa
a mesma retórica dos matadores da ditadura
MARIA RITA
KEHL
ESPECIAL
PARA A FOLHA
"Quem
não reagiu está vivo", disse o governador de São Paulo ao defender a ação
da Rota na chacina que matou nove supostos bandidos numa chácara em Várzea
Paulista, na última quarta-feira, dia 12. Em seguida, tentando aparentar
firmeza de estadista, garantiu que a ocorrência será rigorosamente apurada.
Eu me
pergunto se é possível confiar na lisura do inquérito, quando o próprio
governador já se apressou em legitimar o morticínio praticado pela PM que
responde ao comando dele.
"Resistência
seguida de morte": assim agentes das Polícias Militares, integrantes do
Exército e diversos matadores free-lancer justificavam as execuções de supostos
inimigos públicos que militavam pela volta da democracia durante a ditadura
civil militar, a qual oprimiu a sociedade e tornou o país mais violento, menos
civilizado e muito mais injusto entre 1964 e 1985.
Suprimida a
liberdade de imprensa, criminalizadas quaisquer manifestações públicas de
protesto, o Estado militarizado teve carta branca para prender sem
justificativa, torturar e matar cerca de 400 estudantes, trabalhadores e
militantes políticos (dos quais 141 permanecem até hoje desaparecidos e outros
44 nunca tiveram seus corpos devolvidos às famílias --tema atual de
investigação pela Comissão Nacional da Verdade).
Esse
número, por si só alarmante, não inclui os massacres de milhares de camponeses
e índios, em regiões isoladas e cuja conta ainda não conseguimos fechar. Mais
cínicas do que as cenas armadas para aparentar trocas de tiros entre policiais
e militantes cujos corpos eram entregues às famílias totalmente desfigurados,
foram os laudos que atestavam os inúmeros falsos "suicídios".
HERZOG
A
impunidade dos matadores era tão garantida que eles não se preocupavam em
justificar as marcas de tiros pelas costas, as pancadas na cabeça e os
hematomas em várias partes do corpo de prisioneiros "suicidados" sob
sua guarda. Assim como não hesitaram em atestar o suicídio por enforcamento com
"suspensão incompleta", na expressão do legista Harry Shibata, em
depoimento à Comissão da Verdade, do jornalista Vladimir Herzog numa cela do
DOI-Codi, em São Paulo.
Quando o
Estado, que deveria proteger a sociedade a partir de suas atribuições
constitucionais, investe-se do direito de mentir para encobrir seus próprios
crimes, ninguém mais está seguro. Engana-se a parcela das pessoas de bem que
imaginam que a suposta "mão de ferro" do governador de São Paulo seja
o melhor recurso para proteger a população trabalhadora.
Quando o
Estado mente, a população já não sabe mais a quem recorrer. A falta de
transparência das instituições democráticas --qualificação que deveria valer
para todas as polícias, mesmo que no Brasil ainda permaneçam como polícias
militares-- compromete a segurança de todos os cidadãos.
Vejamos o
caso da última chacina cometida pela PM paulista, cujos responsáveis o
governador de São Paulo se apressou em defender. Não é preciso comentar a
bestialidade da prática, já corriqueira no Brasil, de invariavelmente só atirar
para matar --frequentemente com mais de um tiro.
Além disso,
a justificativa apresentada pelo governador tem pelo menos uma óbvia exceção.
Um dos mortos foi o suposto estuprador de uma menor de idade, que acabava de
ser julgado pelo "tribunal do crime" do PCC na chácara de Várzea
Paulista. Ora, não faz sentido imaginar que os bandidos tivessem se esquecido
de desarmar o réu Maciel Santana da Silva, que foi assassinado junto com os
outros supostos resistentes.
Aliás, o
"tribunal do crime" acabara de inocentar o acusado: o senso de
justiça da bandidagem nesse caso está acima do da PM e do próprio governo do
Estado. Maciel Santana morreu desarmado. E apesar da ausência total de marcas
de tiros nos carros da PM, assim como de mortos e feridos do outro lado, o
governador não se vexa de utilizar a mesma retórica covarde dos matadores da
ditadura --"resistência seguida de morte", em versão atualizada:
"Quem não reagiu está vivo".
CAMORRA
Ora, do
ponto de vista do cidadão desprotegido, qual a diferença entre a lógica do
tráfico, do PCC e da política de Segurança Pública do governo do Estado de São
Paulo? Sabemos que, depois da onda de assassinatos de policiais a mando do PCC,
em maio de 2006, 1.684 jovens foram executados na rua pela polícia, entre
chacinas não justificadas e casos de "resistência seguida de morte",
numa ação de vendeta que não faria vergonha à Camorra. Muitos corpos não foram
até hoje entregues às famílias e jazem insepultos por aí, tal como aconteceu
com jovens militantes de direitos humanos assassinados e desaparecidos no
período militar.
Resistência
seguida de morte, não: tortura seguida de ocultação do cadáver. O grupo das
Mães de Maio, que há seis anos luta para saber o paradeiro de seus filhos, não
tem com quem contar para se proteger das ameaças da própria polícia que deveria
ajudá-las a investigar supostos abusos cometidos por uma suposta minoria de
maus policiais. No total, a polícia matou 495 pessoas em 2006.
Desde
janeiro deste ano, escreveu Rogério Gentile na Folha de 13/9, a PM da capital
matou 170 pessoas, número 33% maior do que os assassinatos da mesma ordem em
2011. O crime organizado, por sua vez, executou 68 policiais. Quem está seguro
nessa guerra onde as duas partes agem fora da lei?
ASSASSINATOS
A
pesquisadora norte-americana Kathry Sikkink revelou que o Brasil foi o único
país da América Latina em que o número de assassinatos cometidos pelas polícias
militares aumentou, em vez de diminuir, depois do fim da ditadura
civil-militar.
Mudou o
perfil socioeconômico dos mortos, torturados e desaparecidos; diminuiu o poder
das famílias em mobilizar autoridades para conseguir justiça. Mas a mortandade
continua, e a sociedade brasileira descrê da democracia.
Hoje os
supostos maus policiais talvez sejam minoria, e não seria difícil apurar suas
responsabilidades se houvesse vontade política do governo. No caso do
terrorismo de Estado praticado no período investigado pela Comissão da Verdade,
mais importante do que revelar os já conhecidos nomes de agentes policiais que
se entregaram à barbárie de torturar e assassinar prisioneiros indefesos, é
fundamental que se consiga nomear toda a cadeia de mando acima deles.
Se a
tortura aos oponentes da ditadura foi acobertada, quando não consentida ou
ordenada por autoridades do governo, o que pensar das chacinas cometidas em
plena democracia, quando governadores empenham sua autoridade para justificar
assassinatos cometidos pela polícia sob seu comando?
Como
confiar na seriedade da atual investigação, conduzida depois do veredicto do
governador Alckmin, desde logo favorável à ação da polícia? Qual é a lisura que
se pode esperar das investigações de graves violações de Direitos Humanos
cometidas hoje por agentes do Estado, quando a eliminação sumária de supostos
criminosos pelas PMs segue os mesmos procedimentos e goza da mesma impunidade
das chacinas cometidas por quadrilhas de traficantes?
Não há
grande diferença entre a crueldade praticada pelo tráfico contra seis meninos
inocentes, no último domingo, no Rio, e a execução de nove homens na quarta, em
São Paulo. O inquietante paralelismo entre as ações da polícia e dos bandidos
põe a nu o desamparo de toda a população civil diante da violência que tanto
pode vir dos bandidos quanto da polícia.
"Chame
o ladrão", cantava o samba que Chico Buarque compôs sob o pseudônimo de
Julinho da Adelaide. Hoje "os homens" não invadem mais as casas de
cantores, professores e advogados, mas continuam a arrastar moradores
"suspeitos" das favelas e das periferias para fora dos barracos ou a
executar garotos reunidos para fumar um baseado nas esquinas das periferias das
grandes cidades.
PELA
CULATRA
Do ponto de
vista da segurança pública, este tiro sai pela culatra. "Combater a
violência com mais violência é como tentar emagrecer comendo açúcar",
teria dito o grande psicanalista Hélio Pellegrino, morto em 1987.
E o que é
mais grave: hoje, como antes, o Estado deixa de apurar tais crimes e, para
evitar aborrecimentos, mente para a população. O que parece ser decidido em
nome da segurança de todos produz o efeito contrário. O Estado, ao mentir,
coloca-se acima do direito republicano à informação --portanto, contra os
interesses da sociedade que pretende governar.
O Estado,
ao mentir, perde legitimidade --quem acredita nas "rigorosas
apurações" do governador de São Paulo? Quem já viu algum resultado
confiável de uma delas? Pensem no abuso da violência policial durante a ação de
despejo dos moradores do Pinheirinho... O Estado mente --e desampara os
cidadãos, tornando a vida social mais insegura ao desmoralizar a lei. A quem
recorrer, então?
A lei é
simbólica e deve valer para todos, mas o papel das autoridades deveria ser o de
sustentar, com sua transparência, a validade da lei. O Estado que pratica
vendetas como uma Camorra destrói as condições de sua própria autoridade, que
em consequência disso passará a depender de mais e mais violência para se
sustentar.
*Roberto Carlos Ramos "O maior contador de estória"
Qdo ouvi o
governador de São Paulo explicar que quem não reagiu estava vivo, recordei de
Roberto Carlos, o menino que aos seis anos, por conta de problemas familiares e
publicidade enganosa é levado por sua mãe para uma recém-inaugurada instituição
para crianças - a FEBEM. .
O histórico
do grupo remonta a 1962, inicialmente com formação de trio, integrado por Ruy,
Aquiles e Miltinho, responsáveis pelo suporte musical do Centro Popular de
Cultura, da Universidade Federal Fluminense (filiado ao CPC da UNE), em
Niterói.
A partir do
ano seguinte, com a adesão de Magro Waghabi, passou a atuar como Quarteto do
CPC, com a seguinte distribuição de vozes: Ruy (1ª voz), Magro Waghabi (2ª voz
e direção musical), Aquiles (3ª voz) e Miltinho (4ª voz).
Em 1964,
com a extinção dos CPCs, Magro Waghabi e Miltinho, na época estudantes de
Engenharia, batizaram o conjunto como MPB-4, o que provocou, por parte de
Sérgio Porto, o comentário de que o nome do quarteto parecia "prefixo de
trem da Central do Brasil". Por esse motivo, durante muito tempo,
atribuiu-se ao jornalista a autoria do nome do grupo. Nesse mesmo ano realizou
sua primeira apresentação profissional, na Boate Petit Paris, em Niterói.
Também em 1964, gravou seu primeiro disco, um compacto duplo intitulado Samba
Bem, contendo as faixas "Samba da Minha Terra" (Dorival Caymmi),
"Lavadeira" (Silveirinha), "Mascarada" (Zé Kéti e Élton
Medeiros) e "Vida do Sem" (Miltinho e Waghabi), essa última incluída
na peça "O Menino e a Bola", criação de Carlos Vereza e dos
integrantes do quarteto.
Em 1965,
Ruy, Magro Waghabi, Aquiles e Miltinho, ainda estudantes, viajaram de férias
para São Paulo, onde, na Boate “Ela, Cravo & Canela”, por intermédio do
escritor e compositor Chico de Assis, conheceram Chico Buarque e as integrantes
do Quarteto em Cy. Chico de Assis os apresentou a Manoel Carlos. O MPB4 para se
apresentar no programa O Fino da Bossa, da TV Record, ao lado do Quarteto em
Cy, e para cantar ao lado de Elis Regina Elis Regina, apresentadora do
programa, junto com Jair Rodrigues. Ainda em São Paulo, o conjunto atuou mais
uma vez ao lado do Quarteto em Cy, apresentando, na boate Le Club, o show
"No Samba Que Eu Vou", cujo roteiro foi assinado por Chico de Assis.
Em uma das apresentações, encontrava-se presente na platéia o produtor Aloysio
de Oliveira, que convidou-os para gravar no selo Elenco. De volta ao Rio de
Janeiro, o grupo lançou um compacto simples, contendo as canções "Samba
Lamento" (Luiz Marçal) e "São Salvador" (Roberto Nascimento).
Ainda em 1965, dividiu o palco da Boate Zum Zum com Oscar Castro Neves, Rosinha
de Valença e o Quarteto em Cy, no show "Contraponto", com direção de
Aloysio de Oliveira. Participou, também, do histórico espetáculo "O Samba
Pede Passagem" (uma idealização de Sérgio Cabral), dirigido por João das
Neves, apresentando-se ao lado de Aracy
de Almeida e Ismael Silva, dentre outros. O show, lançado em disco, foi
realizado no Teatro Opinião (RJ), substituindo o espetáculo teatral
"Brasil Pede Passagem", proibido pela censura.
Em 1966,
integrou, ao lado de Betty Faria, Fernando Lébeis, José Wilker, José Damasceno
e Cécil Thiré, a ópera popular "João Amor e Maria", de Hermínio Bello
de Carvalho e de Mauricio Tapajós, cuja trilha sonora, composta por Mauricio,
contou com algumas letras de Antônio Carlos Brito (Cacaso). O espetáculo, que
teve direção de Kleber Santos e Nélson Xavier, e cenários de Marcos Flaksman,
foi apresentado no Teatro Jovem (RJ). Participou, também, ao lado da musa da
bossa nova, do show "Quem Tem Medo de Nara Leão?", realizado na Boate
Cangaceiro (RJ), com direção de Guilherme Araújo e Ferreira Gullar. Ainda em
1966, gravou seu primeiro LP, "MPB-4", com destaque para as canções
"Lamentos" (Pixinguinha e Vinícius de Moraes), "Juca",
"Olé, Olá" e " Sonho de Um Carnaval", todas de Chico
Buarque. Participou, nesse mesmo ano, do II Festival da Música Popular
Brasileira (TV Record), classificando "Canção de Não Cantar", de
Sérgio Bittencourt, em 4º lugar.
Em 1967,
gravou mais um LP intitulado "MPB-4", contendo "Cordão da
Saideira" (Edu Lobo), "Fica", "Morena dos Olhos
d'Água" e "Quem Te Viu, Quem Te Vê", todas de Chico
Buarque", além de "Canção a Medo" (Sérgio Bittencourt), gravada
com a participação do Quarteto em Cy, dentre outras. Nesse mesmo ano,
participou do III Festival da Música Popular Brasileira (TV Record),
interpretando as canções "Gabriela" (Maranhão) e
"Roda-Viva" (Chico Buarque), esta última com o autor. Ambas, com
arranjos vocais de Magro Waghabi, foram classificadas em 6º e 3º lugares,
respectivamente. Também em 1967, classificou as canções "O Sim `Pelo
Não" (Alcivando Luz e Carlos Coqueijo) e "Cantiga" (Dori Caymmi
e Nélson Motta) em 6º e 9º lugares, respectivamente, no II Festival
Internacional da Canção (TV Globo).
Em 1968,
gravou o LP "MPB-4", registrando "Ela Desatinou" (Chico
Buarque), "Estrela É Lua Nova" (Villa-Lobos), com a participação do
coral do Centro Educacional de Niterói, "Sabiá" (Tom Jobim e Chico
Buarque) e "Sentinela" (Milton Nascimento e Fernando Brant), dentre
outras, além de "Por Acaso", uma parceria de Ruy e Cynara. Ainda
nesse ano, apresentou-se com Chico Buarque no Teatro Toneleros (RJ), com
direção de João das Neves, e realizou temporada de shows na Boate Blow Up (SP).
Em 1969,
dividiu o palco do Teatro Opinião (RJ) com a dupla Cynara & Cybele, no
show "Bacobufo no Caterefofo".
No ano
seguinte, voltou a se apresentar com Chico Buarque, em show realizado na casa
noturna Sucata (RJ). Lançou, também em 1970, o LP "Deixa Estar",
registrando a primeira gravação de uma música de Aldir Blanc, "Amigo É Pra
Essas Coisas" (com Silvio da Silva Jr.), classificada em segundo lugar no
III Festival Universitário da MPB, além de "Pelo telefone" (Donga e
Mauro de Almeida), a faixa-título (Maurício Tapajós e Hermínio Belo de
Carvalho) e "Beco do Mota" (Milton Nascimento e Fernando Brant) e
"Mar da tranqüilidade", uma parceria de Ruy, Cynara e Aquiles, dentre
outras.
Em 1971,
gravou o LP "De Palavra em Palavra", contendo "Cravo e
Canela" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), "Eu Cheguei Lá"
(Dorival Caymmi) e "Pois É, Pra Quê?" (Sidney Miller), dentre outras,
além da faixa-título, uma parceria de Miltinho com Maurício Tapajós e Paulo
César Pinheiro, e de "Minha História", versão de Chico Buarque para a
canção "Gesubambino" (Dalla e Pallottino). Nesse mesmo ano, dividiu o
palco do Canecão (RJ) com Chico Buarque, Jacques Klein e a Orquestra Sinfônica
Brasileira, sob a regência do maestro Isaac Karabtchevsky, no histórico
espetáculo "Construção".
Em 1972,
apresentou-se em Portugal, com Chico Buarque. Lançou, ainda nesse ano, o LP
"Cicatrizes", com destaque para "San Vicente" (Milton
Nascimento e Fernando Brant), "Partido-Alto" (Chico Buarque),
"Pesadelo" (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro) e a
faixa-título, uma parceria de Miltinho com Paulo César Pinheiro.
Em 1973,
voltou a se apresentar com Chico Buarque, dessa vez em Buenos Aires.
No ano
seguinte, 1974, gravou o LP "Antologia do Samba", contendo obras de
Monsueto, Chico Buarque, Ismael Silva, Ataulfo Alves, Noel Rosa, Dorival
Caymmi, Baden Powell, Tom Jobim, Nélson Cavaquinho e Paulinho da Viola. Dividiu
o palco do Teatro Casa Grande (RJ) com Chico Buarque, no show "Tempo e
Contratempo".
Também em 1974, lançou o LP "Palhaços e Reis". O
disco, produzido por Paulinho Tapajós, registrou, dentre outras, as canções
"Mordaça" (Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro), "Agora é
Portela 74" (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro), "Fé Cega, Faca
Amolada" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) e "Chegança" (Edu
Lobo e Oduvaldo Vianna Filho), além da faixa-título (Ivan Lins e Ronaldo
Monteiro de Barros) e da composição "Nosso Mal", uma parceria de
Miltinho com Maurício Tapajós.
Em 1975,
apresentou, no Teatro Fonte da Saudade (RJ), o espetáculo "MPB-4 na
República do Peru". O roteiro, escrito pelos integrantes do grupo, em
parceria com Chico Buarque e Antônio Pedro, foi vetado pela Censura após cinco
apresentações, gerando um show em forma de recital, contendo apenas o
repertório musical. Lançou, ainda nesse ano, o LP "Dez Anos Depois".
O disco, também produzido por Paulinho Tapajós, registrou as canções "De
Frente Pro Crime" (João Bosco e Aldir Blanc), "Manhã de
Carnaval" (Luiz Bonfá e Antônio Maria), "Galope" (Gonzaguinha),
"Canto Triste" (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), "Passaredo"
(Francis Hime e Chico Buarque), "Ana Luiza" (Tom Jobim),
"Pressentimento" (Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho),
"Praias Desertas" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), "Amei
Tanto" (Baden Powell e Vinícius de Moraes), "Evangelho" (Dori
Caymmi e Paulo César Pinheiro), "Vera Cruz" (Milton Nascimento e
Márcio Borges), além de "Assim Seja, Amém", uma parceria de Miltinho
com Gonzaguinha. Apresentou-se, também, no Teatro Fonte da Saudade (RJ), com o
show "MPB-4 no Safári", título escolhido para substituir
"República de Ugunga", que havia sido vetado pela Censura.
Em 1976,
gravou o LP "Canto dos Homens". No repertório, músicas como
"Corrente" e "Vai Trabalhar Vagabundo", ambas de Chico
Buarque, "Negro, Negro" (Edu Lobo e Capinam), "Bola ou
Búlica" e "O Ronco da Cuíca", ambas de João Bosco e Aldir Blanc,
"Chão, Pó, Poeira" (Gonzaguinha) e "Aparecida" (Ivan Lins e
Maurício Tapajós), dentre outras, além da faixa-título, uma parceria de
Miltinho com Paulo César Pinheiro. O show de lançamento do disco estreou no
Teatro da Galeria (RJ), sob o título de "Jornal Depois de Amanhã", com
direção de Antônio Pedro e texto de Aldir Blanc. Esse espetáculo foi realizado
em substituição a outro que continha o texto de Carlos Eduardo Novaes
"MPB-4 no País das Maravilhas", vetado na íntegra pela Censura
Federal.
Em 1977,
lançou o LP "Antologia do Samba nº 2", contendo obras de Ivan Lins,
Cartola, Maurício Tapajós, Haroldo Lobo, Haroldo Barbosa, Zé Kéti, Pixinguinha,
Ary Barroso, Wilson Batista e Billy Blanco.
No ano
seguinte, gravou, com o Quarteto em Cy, o LP "Cobra de Vidro",
registrando "Nada Será Como Antes" (Milton Nascimento e Ronaldo
Bastos), "A estrada e o Violeiro" (Sidney Miller), "Não Existe
Pecado ao Sul do Equador" (Chico Buarque e Ruy Guerra), "O Cio da
Terra" (Milton Nascimento e Chico Buarque), "Me Gustan los
Estudiantes" (Violeta Parra), "Oriente" (Gilberto Gil) e
"Because" (Lennon e McCartney), dentre outras. Apresentou-se, ao lado
do Quarteto em Cy, no Teatro Carlos Gomes (RJ), em espetáculo de mesmo nome,que
registrou a estreia, como roteirista e diretor, de Túlio Feliciano, e a
apresentação da inédita canção "Angélica" (Miltinho e Chico Buarque),
uma homenagem a Zuzu Angel.
Em 1979,
lançou o LP "Bons Tempos, Hein?", contendo "Fantasia"
(Chico Buarque), "Se Meu Time Não Fosse o Campeão" (Gonzaguinha),
"Tropicália" (Caetano Veloso), "Cálice" (Chico Buarque e
Gilberto Gil), "Pobre del Cantor" (Pablo Milanés) e
"Nascente" (Flávio Venturini e Murilo Antunes), dentre outras, além
de "Angélica". Estreou show homônimo no TAIB (SP), com texto de
Millor Fernandes e direção de Benjamim Santos, que ficou em cartaz durante
cinco meses.
Em 1980,
gravou o LP "Vira Virou", registrando "Olhar de Cobra"
(Moraes Moreira e Rizério), "A Lua" (Renato Rocha),
"Bilhete" (Ivan Lins e Vitor Martins) e "Vira Virou"
(Kleiton Ramil), dentre outras. Realizou show de lançamento do disco no Teatro
Teresa Raquel (RJ). Ainda nesse ano, lançou, com o Quarteto em Cy, o LP
infantil "Flicts - de Ziraldo e Sérgio Ricardo".
Em 1981,
gravou mais um LP infantil, "Adivinha o Que É", obra de Renato Rocha,
contendo canções como "O Som dos Bichos" (Renato Rocha e G. Amaral),
"O Galo Cantor" (Renato Rocha e G. Amaral) e "O Pato"
(Toquinho e Vinícius de Moraes), esta última apresentada pelo grupo no especial
da TV Globo "A arca de Noé". Estreou show homônimo no Canecão (RJ),
com direção de Benjamim Santos. Ainda
nesse ano, lançou o LP "Tempo Tempo", registrando as canções
"Almanaque" (Chico Buarque) e "Oração ao Tempo" (Caetano
Veloso), dentre outras, além de composições de Miltinho, "Cavalo de
Batalha" (com Paulo César Pinheiro e Zé Renato) e "Anjo Sereia"
(com Alceu Valença), "Mulher Maio" (Ruy e Ary dos Santos),
"Magia" (Magro Waghabi e Kleiton Ramil) e "Doce, Doce"
(Magro Waghabi e Miltinho). Posteriormente, apresentou esse mesmo show no Tuca
(SP), também com direção de Benjamim Santos.
Em 1983,
gravou o LP "Caminhos Livres", contendo "Baile no Meu
Coração" (Paulo Leminski e Moraes Moreira), "Papo de Passarim"
(Zé Renato e Xico Chaves), "Porto Seguro" (Marcelo Alkmin e Flávio
Venturini), "Lindo Balão Azul" (Guilherme Arantes) e "A Nível
de..." (Aldir Blanc e João Bosco), dentre outras, além de "Voo do
Amor", uma parceria de Ruy com Rosana Ferrão, e "Palhacinha", de
Magro Waghabi e Miltinho. Apresentou-se no Canecão, em show homônimo dirigido
por Benjamim Santos.
Em 1984,
lançou o LP "4 Coringas", registrando "Bacurizim" (Gilberto
Gil), "Tema de Amor de Gabriela" (Tom Jobim), "Alegria
Brasil" (Gonzaguinha), "Entre o Torresmo e a Moela" (Aldir Blanc
e Maurício Tapajós) e "Quatro Coringas" (Vitor Martins e Ivan Lins),
dentre outras, além de "Mais Coração", uma parceria de Miltinho com
Paulo César Pinheiro e Zé Renato, e "Pastor da Noite", de Magro
Waghabi e Miltinho. Estreou show de lançamento do disco no Teatro da Galeria
(RJ).
Em 1987,
gravou o LP "Feitiço Carioca - do MPB-4 para Noel Rosa", contendo
obras do poeta da Vila, como "Pierrô apaixonado" (c/ Heitor dos
Prazeres), "Com que roupa", "Feitio de Oração" e
"Conversa de Botequim" (c/ Vadico), dentre outras, além de
"Felicidade", de René Bittencourt. Realizou show homônimo na casa de
espetáculos Boteco-Teco, com roteiro e direção de Ruy Faria e texto de Aldir
Blanc.
Em 1989,
apresentou, no Canecão, o show "Amigo É Pra Essas Coisas", com texto
de Luís Fernando Veríssimo e direção de Túlio Feliciano, depois gravado ao vivo
na casa de espetáculos Scala. No repertório, as músicas "Canções e
Momentos" e "Canção da América", ambas de Milton Nascimento e
Fernando Brant, "Olê Olá", "Roda-Viva" e "Quem Te Viu,
Quem Te Vê", todas de Chico Buarque, "A Lua" (Renato Rocha),
"Vira Virou" (Kleiton Ramil), "A Nível de..." (Aldir Blanc
e João Bosco), "O Que Vale É a Amizade”, versão de Paulo César Pinheiro
para “With a Little Help From My Friends”, de Lennon e McCartney, "Por
Quem Merece Amor”, uma versão de Miltinho para “Por Quien Merece Amor”, de
Silvio Rodriguez, "Faz Parte do Meu Show" (Renato Ladeira e Cazuza),
"Paula e Bebeto" (Caetano Veloso e Milton Nascimento), "Amor de
Índio" (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e a canção-título (Sílvio da Silva
Júnior e Aldir Blanc), além de "Parceria em Marcha Lenta", de Magro
Waghabi e Luís Fernando Veríssimo. O espetáculo reuniu pela primeira vez no
palco duas gerações de músicos: o MPB4 acompanhado por Marcos Feijão (bateria e
percussão), filho de Miltinho, Pedro Reis (violão, guitarra e bandolim), filho de
Aquiles, João Faria (baixo e violão), filho de Ruy, e Eduardo Waghabi
(teclados), filho de Magro Waghabi.
Em 1991,
gravou o CD "Sambas da Minha Terra", contendo obras de Dorival
Caymmi, Toquinho & Vinícius, Zé Kéti e Ary Barroso, dentre outros, apresentando-se
no Teatro da Barra (RJ), com direção de Túlio Feliciano.
Em 1993,
lançou o CD "Encontro Marcado - MPB-4 canta Milton Nascimento",
registrando obras do compositor mineiro, apresentando-se em show homônimono
Canecão.
Em 1995,
comemorando 30 anos de carreira, realizou, no Teatro Rival (RJ), o espetáculo
"Arte de Cantar", com direção e texto de Miguel Fallabela. O show foi
gravado ao vivo, gerando o CD que registrou sucessos da carreira do MPB4, como
"Roda Viva" (Chico Buarque), "Canto Triste" (Edu Lobo e
Vinícius de Moraes), em interpretação a capela, e "Amigo É Pra Essas
Coisas" (Sílvio da Silva Júnior e Aldir Blanc), dentre outros, além das
canções inéditas "Soberana Rosa" (Ivan Lins, Vítor Martins e Chico
César) e "Sépia & Flash" (Guinga e Aldir Blanc), feita
especialmente para o MPB4.
Em 1997,
gravou, com o Quarteto em Cy, o CD "Bate-Boca", registrando obras de
Tom Jobim e Chico Buarque. Estreou show no Teatro Municipal de Niterói, com
direção de Túlio Feliciano.
No ano
seguinte, lançou mais um CD com o Quarteto em Cy, "Somos Todos
Iguais", contendo exclusivamente canções de Djavan, como "Fato
Consumado", e da dupla Ivan Lins e Vitor Martins, como "Somos Todos
Iguais Nesta Noite". Estreou show de lançamento do disco no Canecão (RJ),
dividindo o palco com o Quarteto em Cy, sob a direção de Luiz Carlos Maciel.
Em 1999,
lançou o CD "Melhores Momentos", gravado ao vivo no Teatro Rival
(RJ). No repertório, as canções "O cafona" (Marcos Valle e Paulo
Sérgio Valle) e "Yolanda" (Pablo Milanés, numa versão de Chico
Buarque), além de "Por Quem Merece Amor", versão de Miltinho para
"Por Quien Merece Amor", de Silvio Rodrigues, e da regravação de
"Cicatrizes", uma parceria de Miltinho e Paulo César Pinheiro, dentre
outras.
Em abril de
2000 viajaram para Portugal para participar do I Festival de Músicas Latinas,
em Vila Nova de Famalicão, onde também se apresentaram o grupo pernambucano Mestre Ambrósio e o
fadista Carlos do Carmo.
Ainda em
2000, voltou a gravar um CD com o Quarteto em Cy, "Vinícius - a Arte do
Encontro". O disco contou com a direção artística de Ruy Faria, que
assinou a seleção do repertório e viabilizour o encontro dos dois grupos com
Vinícius de Moraes, 20 anos após seu falecimento, registrando a voz do poeta em
algumas faixas, graças a técnicas especiais de gravação. No repertório, canções
como "Minha Namorada" (Vinícius e Carlos Lyra), "Arrastão"
(Vinícius e Edu Lobo), "Chega de Saudade" (Vinícius e Tom Jobim) e
"Samba da Bênção" (Vinícus e Baden Powell), além de "Samba pra
Vinícius", de Chico Buarque e Toquinho, e "Odeon", de Ubaldo
Sciangula e Ernesto Nazareth. Realizou show de lançamento do disco no Canecão
(RJ), ao lado do Quarteto em Cy. O espetáculo contou com roteiro, adaptação de
texto, direção geral e produção de Ruy Faria. Ainda nesse ano, apresentou-se no
Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil, encerrando o ciclo "MPB, a
História de Um Século", série de quatro espetáculos escritos e dirigidos
por Ricardo Cravo Albin, em comemoração aos 500 anos do Descobrimento do
Brasil. O show do MPB4, que compreendia o período musical de 1960 (festivais de
música) a 2000, foi gravado e transmitido para todo o país pela Rede Brasil,
liderada pela TVE do Rio de Janeiro.
Em 2001,
lançou CD "MPB-4 e a Nova Música Brasileira", que contou com a
participação de Jairzinho Oliveira e Max de Castro, responsáveis pela produção,
arranjos de base, violões, teclados e programação. No repertório, canções como
“Posso Até Me Apaixonar” ( Dudu Nobre), "Paciência" (Lenine e Dudu Falcão),
"Lenha" (Zeca Baleiro), "À Primeira Vista" (Chico
César) e "Mentiras" (Adriana
Calcanhoto), dentre outras, além de "Eu Sou a Árvore", versão de
Chico Buarque para "Y Tu que Hás Hecho?" (Eusébio Delfin).
Todos os
shows realizados pelo grupo ao longo de sua carreira tiveram direção musical de
Magro Waghabi, com exceção de "Feitiço Carioca", assinado por
Maurício Maestro.
Atuando com
a formação original desde o início de sua trajetória, o grupo foi indicado, na
edição brasileira do "Guiness Book" (o livro dos recordes), de 1996,
como o grupo vocal que se manteve por mais tempo atuando no cenário artístico
com a mesma formação.
Foi
contemplado três vezes com o Prêmio Sharp, na categoria Melhor Conjunto (1987,
1989 e 1995).
Em 2002,
apresentou-se em São Paulo, no circuito SESC, no Rio de Janeiro (Mistura Fina,
Bar do Tom, Garden Hall) e em outras cidades brasileiras.
Em 2004,
participou, ao lado de Gilberto Gil e de outros artistas, da gravação do CD
"Hino do Fome Zero" (Roberto Menescal e Abel Silva). Nesse mesmo ano,
Ruy Faria desligou-se do grupo, sendo substituído pelo cantor Dalmo Medeiros. A
estréia do novo integrante se deu quando o grupo fez o show de encerramento do
evento "64 + 40: Golpe e Campo(us) de Resistência", realizado no campus
da UFRJ, na Praia Vermelha. Nesse mesmo ano, foi relançado em CD o disco
"Cicatrizes", de 1972.
Em 2006
gravou, pela EMI, o CD e DVD comemorativos de 40 anos de carreira, no Teatro do
SESC Vila Mariana, em São Paulo, tendo como convidados: Roberta Sá, Quarteto em
Cy, Zeca Pagodinho, Milton Nascimento e Cauby Peixoto, tio de Dalmo Medeiros. O
disco teve também a participação especial de Chico Buarque que cantou com o
MPB4 “Roda Viva”, de sua autoria e “Quem Acreditou na Vida Como Eu”, música,
até então inédita, do compositor Sidney Milller.
Em julho de
2007 estrearam no Canecão, no Rio de Janeiro, o show ”Toquinho e MPB4 – 40 Anos
de Música”, iniciando em seguida turnê por várias cidades: Campinas, no Centro
de Convivência; Belo Horizonte, no Freegels; Porto Alegre, no Teatro Bourbon, e
em São Paulo, no Tom Brasil.
Em 2008
prosseguiram com seus shows do DVD/CD 40 Anos e retornaram ao Rio de Janeiro,
no Vivo Rio, com o show Toquinho e MPB4, seguindo com este espetáculo para Juiz
de Fora, no Teatro Central.
A temporada
do show com Toquinho prosseguiu em BH, novamente no Freegels, e em Recife, no
Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), retornando a São Paulo, no
agora HSBC Tom Brasil.
Ainda em
2008 gravaram, no Teatro FECAP, em São Paulo, o CD/ DVD deste show: “Toquinho e
MPB4, 40 anos de música”, lançado pela gravadora Biscoito Fino.
Em 2009
prosseguiram com os shows dos DVDs/CDs “MPB4-40 Anos” e “Toquinho e MPB4”, além
de circuitos pelas unidades do SESC de São Paulo.
Estão
gravando o CD “Boleros, Uma Antologia” com novas versões dos mais bonitos
boleros feitas pelos grandes letristas da MPB (Caetano Veloso, Celso Viáfora,
Fernando Brant, Paulo César Pinheiro, Vítor Ramil, Zélia Duncan e outros), com
lançamento previsto para 2010.
Há plano para jogar no lixo dois
séculos de conquista
“Este é um mundo violento e
mentiroso, mas não podemos perder a esperança e o entusiasmo pela mudança”, diz
Eduardo Galeano.
Eduardo Galeano:
"O mundo é violento, mas não podemos perder a esperança".
O escritor uruguaio, historiador
literato de seu continente, através de obras como “As Veias Abertas da América
Latina” e da trilogia “Memória do Fogo”, falou nesta entrevista sobre os
últimos acontecimentos na América Latina e a crise econômica mundial.
De sua mesa de sempre no central
Café Brasileiro, deixando atrás da janela o frio do inverno austral, insiste
que “a grandeza do homem está nas pequenas coisas, que são feitas
cotidianamente, dia a dia, por anônimos sem saber que as fazem”.
Ele alterna as respostas com
episódios de seu último livro, “Os Filhos dos Dias”, em que agrupa 366
histórias verdadeiras, uma para cada dia do ano, que contêm mais verdade do que
falar sobre inidcadores de risco.
Confira abaixo a entrevista para a rede BBC
A crise europeia está sendo tratada pelos líderes políticos a partir de
um discurso de sacrifício da população.
Eduardo Galeano: É igual ao discurso dos oficiais quando eles mandam
os recrutas para morrer, com menos cheiro de pólvora, mas não menos violento.
Este é um plano sistemático em
nível mundial para jogar no lixo dois séculos de conquistas dos trabalhadores,
para que a humanidade retroceda em nome da recuperação nacional. Este é um
mundo organizado e especializado no extermínio do próximo.
E então condenam a violência dos
pobres, dos mortos de fome; a outra se aplaude, merece condecorações.
A “austeridade” está sendo apresentada como única saída?
Galeano: Para quem? Se os banqueiros que causaram esse desastre foram
e continuam sendo os principais ladrões de banco e são recompensados com
milhões de euros que lhe são pagos como compensação…
É um mundo muito mentiroso e muito
violento. A austeridade é um antigo discurso na América Latina. Assistimos a
uma peça de teatro que foi estreada aqui e já a conhecemos.
Sabemos tudo: as fórmulas, as
receitas mágicas, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial
Você considera que o empobrecimento da população é mais violento?
Galeano: Se a luta contra o terrorismo fosse verdadeira e não uma
desculpa para outros fins, teríamos que cobrir o mundo com cartazes que
dissessem: “procuram-se os sequestradores de países, os exterminadores de
salários, os assassinos de emprego, os traficantes do medo “, que são os mais
perigosos, porque te condenam à paralisia.
Este é um mundo que te domestica
para que desconfies do próximo, para que seja uma ameaça e nunca uma promessa.
É alguém que vai te fazer dano e, para isso, é preciso defender-se. Assim se
justifica a indústria militar, nome poético da indústria criminosa. Esse é um
exemplo claríssimo de violência.
Passando à política
latino-americana, o México continua nas ruas protestando contra os resultados
oficiais das eleições…
Galeano: A diferença de votos não foi tão grande e pode ser difícil
provar que houve fraude. No entanto, há uma outra fraude mais profunda, mais
fina e que é mais nociva à democracia: a que cometem os políticos que prometem
tudo ao contrário do que depois fazem no poder. Assim eles estão agindo contra
a fé na democracia das novas gerações.
Quanto à destituição de Fernando Lugo no Paraguai, pode-se falar de golpe
de estado se ela foi baseada nas leis do país?
Galeano: Está claro que no Paraguai foi suave e amplamente um golpe
de Estado. Eles golpearam o governo do padre progressista não pelo que tenha
feito, mas pelo que poderia fazer.
Não tinha feito grande coisa, mas,
como propunha uma reforma agrária – em um país que tem o grau de concentração
de poder da terra mais alto na América Latina e em consequência a desigualdade
mais injusta – teve algumas atitudes de dignidade nacional contra algumas
empresas internacionais toda-poderosas como a Monsanto e proibiu a entrada de
algumas sementes transgênicas…
Foi um golpe de Estado preventivo,
apenas no caso de, não pelo que és mas pelo que podes chegar a fazer.
Lhe surpreende que continuem ocorrendo essas situações?
Galeano: O mundo hoje é muito surpreendente. A maioria dos países
europeus que pareciam estar vacinados contra golpes de Estado são agora
governos governados pelas mãos de tecnocratas designados a dedo por Goldman
& Sachs e outras grandes empresas financeiras que não foram votadas por
ninguém.
Até mesmo a linguagem reflete isso:
os países, que se supõe que são soberanos e independentes, têm que fazer bem
seus deveres, como se fossem crianças com tendência à má conduta, e os
professores são os tecnocratas que vêm para puxar suas orelhas.
Fonte:
BBChttp://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/07/entrevista-com-eduardo-galeano-sobre-rumos-do-planeta.html Postado em: 24 jul 2012 às 22:24
Conta a
lenda que um velho sábio, tido como mestre da paciência, era capaz de derrotar
qualquer adversário.
Certa
tarde, um homem conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu com a
intenção de desafiar o mestre da paciência. O velho aceitou o desafio e o homem
começou a insultá-lo. Chegou a jogar algumas pedras em sua direção, cuspiu em
sua direção e gritou todos os tipos de insultos.
Durante
horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível.
No final da
tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o homem se deu por vencido e
retirou-se. Impressionados, os alunos perguntaram ao mestre como ele pudera
suportar tanta indignidade. O mestre perguntou:
- Se alguém
chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o
presente?
- A quem
tentou entregá-lo. Respondeu um dos discípulos.
- O mesmo
vale p/ a inveja, a raiva e os insultos. Quando não aceitos, continuam
pertencendo a quem os carregava consigo.
A sua paz
interior depende exclusivamente de você.
As pessoas
não podem lhe tirar a calma.....a não ser que você permita!!!!!!Conta a lenda
que um velho sábio, tido como mestre da paciência, era capaz de derrotar
qualquer adversário.
Certa
tarde, um homem conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu com a
intenção de desafiar o mestre da paciência. O velho aceitou o desafio e o homem
começou a insultá-lo. Chegou a jogar algumas pedras em sua direção, cuspiu em
sua direção e gritou todos os tipos de insultos.
Durante
horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível.
No final da
tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o homem se deu por vencido e retirou-se.
Impressionados, os alunos perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta
indignidade. O mestre perguntou:
- Se alguém
chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o
presente?
- A quem
tentou entregá-lo. Respondeu um dos discípulos.
- O mesmo
vale p/ a inveja, a raiva e os insultos. Quando não aceitos, continuam
pertencendo a quem os carregava consigo.
A sua paz
interior depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a
calma.....a não ser que você permita!!!!!!
Marlene checou uma vez mais o endereço no
cartão de visitas. "Doutor Oublier". Ali estavam suas esperanças
últimas, haveria de dar certo. O tal consultório ficava em uma ruazinha
escondida atrás da Central do Brasil, em um velho sobrado esquecido no tempo.
Algo de "verde-mofo" na fachada, nenhuma placa. Só o número 5 na rua
indicada. Passara a manhã revisitando pequenos guardados antes de sair...um
caderno de tentativas poéticas, fotos que, de tão velhas, já estavam sépias,
cores lavadas pelo tempo. Uma grande caixa estampada guardava um sem fim de
emaranhado de fitas de cores muitas, adorava fitas. Sempre que recebia um
presente, coisa meio que rara (e ainda mais com laço de fita...),
invariavelmente, as guardava. Gostava de laços...Apesar da idade avançada, nem
velha, nem menina, ainda adornava, vez por outra, seus cabelos escuros já
riscados por alguns fios brancos com o tal adereço. O desse dia tão importante
era azul como o céu que acompanhava seu ansioso percurso. Escolhera sua saia
predileta: branca, rodada, com "poás" amarelos. Camisa branca bem
cortada, sapatinhos de boneca, algo de blush nas faces naturalmente ruborizadas
de expectativas. Na mão, uma bolsa vermelha. Marlene e seus contrastes...
Subiu num
só fôlego as escadas que estalavam a cada pisada, como se fosse desabar. Deu de
cara com uma porta aberta, onde já era esperada, para seu espanto. Um homem,
nem feio, nem bonito; também nem velho, nem menino. Usava calças cinzas,
sapatos gastos e suspensórios sobre uma camisa azul. Os óculos do tal Oublier
eram remendados com esparadrapo já meio
ensebado pelo manuseio. Não recuou, apesar do desconforto inicial causado pela
figura. Estava decidida. Olhou para os lados: paredes nuas, nenhuma gravura,
nenhuma informação. Até que fazia algum sentido. Com um gesto, Oublier apontou
uma linda poltrona floral, talvez o único objeto bonito naquela sala de um beje
indefinível.
- O que a
traz aqui? - começou o homem, já esperando como resposta o que quase todas as
criaturas aflitas buscavam ao cruzar aquela porta.
-Paz.- respondeu
Marlene. Por essa não esperava o tal "especialista".
-Como? Sou
especialista em deletar memórias. Zerar experiências. Sou o mago do
esquecimento, não acredito em superação de traumas. Paz?
-Oras,
Doutor Oublier, paz! É a mesma coisa...tudo isso que o senhor disse ai para mim
se resume em paz...Você pode limpar minha memória? Como um computador? Esvaziar
a lixeira? Tem que ser irreversível.
-Mas
ninguém quer esquecer tudo...
-Eu quero.
Não queria ter que dar com a cabeça em um poste, por isso estou aqui. Me
machucaria sem garantias de uma amnésia absoluta. Pode ou não pode?
-Posso.
Minha sorte é que com esse esquecimento total, não há do que reclamar, nem com
quem reclamar. Isso que me pede a fará esquecer até mesmo quem sou.
-Ótimo. É
algum remédio? Me dê a receita, a fórmula...trouxe dinheiro.
-Não. Não
lido com fármacos. Lido com a escuta. Um momento...
Oublier
abaixou e pegou, embaixo de sua cadeira de madeira carcomida, um baú vazio.
Abriu a caixinha, pousando-a sobre uma mesinha redonda ao lado de seu assento.
-Marlene
seu nome, né? Pois bem, Marlene, me fale o que quiser. Fale o que te aflige
mais. Fale tanto quanto possível. Por sorte, hoje só tenho você para
atender...ficará tudo retido aqui. Não devolvo o baú de memórias, mas como já
disse, você não vai mesmo se lembrar de nada. Com sorte, reaprenderá tudo, por
caminhos novos. Lembrando que pessoas esquecidas são tidas como dementes.
-Sem
problemas. Já sou tida como demente, mesmo tendo uma memória mais que razoável.
Tanto faz. Nem sei se você é sério, mas não tenho tanto a perder.
-Então
comece.
-Quero
esquecer tudo.
-Filhos?
-Um só, já
crescido, vivendo em outro país. Essa missão está cumprida. Quero esquecer o
que sou, mas principalmente, o que nunca fui ou serei. Quero esquecer que sinto
medo de quase tudo...mais! Quero esquecer que o medo existe. Quero esquecer as
mentiras que me contaram...quero esquecer as mentiras que contei para mim
mesma. Quero esquecer que nasci em um país repleto de mentiras e dor. Quero
esquecer minhas fantasias, que muitas vezes, são as únicas razões de continuar
viva e sofrendo por elas. Quero esquecer o que significa saudade. Quero
esquecer que vivo em um mundo onde se ama quase sempre pela metade. Quero
esquecer as porradas literais e simbólicas que, de tantas, nem sei quantas
foram. Quero esquecer quem fez essa cicatriz que trago na testa. Quero esquecer
meus pequenos prazeres, meus desenhos tortos, minha tara por doce de leite,
minha vaidade rasa, minha carência infantil...quero esquecer meus amores
enterrados em cemitérios e lembranças, as calúnias que me levaram o sono, meus
momentos de ira que roubaram sonos alheios, minha família
inexistente(................................), enfim, quero esquecer, muito
mais do que sou, o que nunca fui e nunca serei (etc, etc).
Oublier era
um homem frio, que não entrava em méritos de valor algum. Segurou-se muito para
dizer que Marlene era muito, mas muito mais interessante que ela jamais poderia
supor. Além de linda. Uma voz firme a agradável. Segurou-se! Não deixaria que
aquele rosto soasse como um canto de sereia. Tinha uma reputação a zelar...não
seria ela a primeira a voltar para reclamar a posse da própria história. Ele
tinha um dom, e não se faria ausente à missão para a qual não cobrava um
centavo sequer. Mas ainda tentou algo, com uma voz quase vacilante...
-Marlene...eu
ainda não fechei o baú...quando isso acontecer, estará feito...acho que você já
disse tudo que importa, o Sol até já se foi...é noite.
-Pois feche
o baú.
-Entende
que será como nascer agora em um corpo avançado em anos?
-Detalhe
sem importância. Feche o baú.-Marlene estava absolutamente convicta.
Oublier
fechou com um estranho pesar. Feito isso, Marlene assumiu o semblante de uma
boneca de porcelana. Cumprindo um protocolo, o homem esvaziou sua bolsa de seus
documentos. Dentro, deixou um espelho que pudesse ser um ponto de partida para
uma possível nova vida. Ou ao menos, uma nova existência. Não fizera nada assim
antes, mas Marlene...ah, Marlene deslocara algo estranho dentro dele. Gostaria,
no íntimo, de ter falhado. Mas isso nunca (jamais!) acontecera antes. Todo
mundo saía "deletado" dali.
-Pode ir,
moça...
Marlene se
levantou, desceu as escadas...andou sem rumo até o sol nascer de novo...foi
encontrada por uma vizinha de prédio e conduzida à sua casa. Não diria palavra
sequer, tampouco oferecia resistência. Ao fechar a porta atrás de si, já estava
informada de se chamar Marlene. Deu de ombros, sentia cansaço. Passou pela
cozinha. Uma maçã muito vermelha atraiu seu olhar virgem de registros
significativos. O cheiro era bom...comeu a maçã e desabou em sono profundo.
Do outro
lado da cidade, Oublier voltava da praia, onde jogava ao mar os baús dos
agoniados que, por décadas, atravessavam sua porta em busca do
"alívio". Ao entrar em seu quarto, deu de cara com o de Marlene. Uma
semana se passava, e mais outra, e outros baús ganhavam o Oceano...menos o de
Marlene. Às vezes, abria-o para sentir o cheiro da história daquela mulher
tão...tão sabe-se lá, encantadora, talvez...As histórias contadas ganhavam
forma material dentro daquelas caixinhas. Oublier não conseguia se privar do
prazer de acarinhar um pedaço vermelho de fita de cetim...ou um sachê de chá de
frutas cítricas...ou de ouvir aquela música que representara um dia, para
aquela bela dama cansada,toda a dor do mundo. O que o "infalível" não
sabia é que, cada visita ao museu particular daquela mulher, representava uma
"fuga" das memórias retidas. Marlene voltava a se encantar por novas
fitas, e numa manhã chuvosa, testava, pela "primeira vez", uma
receita de maçã do amor...ao som de lindas músicas. Ao menos dele, ela não se
lembrava...até então.
Entre 1972 e 1975, no Estado do
Amazonas, dois mil indígenas da etnia waimiri-atroari sumiram sem vestígios
Desde o início de 2011, Schwade
passou a divulgar uma série de artigos em seu blog http://urubui.blogspot.com.brsobre os episódios que envolveram a
violenta ocupação das terras dos waimiri-atroari
O recrudescimento contra os
waimiri-atroari nunca foi negado pelo regime militar
O indigenista e ex-missionário
Egydio Schwade, 76, revela os episódios que envolveram a violenta ocupação das
terras dos waimiri-atroari.
O indigenista e ex-missionário
Egydio Schwade, 76, revela os episódios que envolveram a violenta ocupação das
terras dos waimiri-atroari. (CLOVIS MIRANDA / ACRITICA)
Eles não estão na lista oficial de
desaparecidos políticos, nem de vítimas de violação de direitos humanos durante
o regime militar no Brasil, mas foram considerados empecilhos para o
desenvolvimento e guerrilheiros e inimigos do regime militar. Por resistirem à
construção de uma estrada (a BR-174, que liga Manaus a Boa Vista) que
atravessaria seu território, sofreram um massacre.
Entre 1972 e 1975, no Estado do
Amazonas, dois mil indígenas da etnia waimiri-atroari sumiram sem vestígios. Um
número infinitamente superior aos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, no
Pará. Esta população cuja história permanece obscura ainda povoa a memória dos
sobreviventes waimiri-atroari (ou Kiña, como se autodenominam).
"O massacre aconteceu por
etapas e envolveu diferentes órgãos do regime militar", diz o indigenista
e ex-missionário Egydio Schwade, 76, um dos principais agentes da mobilização
que tenta tornar público este episódio e provocar a inclusão dos
waimiri-atroari nas investigações da Comissão Nacional da Verdade, criada em
novembro de 2011 pela Presidência da República.
Desde o início de 2011, Schwade
passou a divulgar uma série de artigos em seu blog http://urubui.blogspot.com.br
sobre os episódios que envolveram a violenta ocupação das terras dos
waimiri-atroari.
Panfleto
O recrudescimento contra os
waimiri-atroari nunca foi negado pelo regime militar. Registros sobre os
métodos dos militares para dissuadir (ou pacificar, como foi batizada a
estratégia de convencimento) os indígenas a aceitar a construção da estrada
estão em vários documentos e podem ser encontrados em declarações dadas a
jornais na época tanto por militares quanto por funcionários da Fundação
Nacional do Índio (Funai).
Panfleto denominado "Operação
Atroaris" que circulava na época, chegou a qualificá-los de
"guerrilheiros". Um trecho do panfleto, escrito em versos, dizia:
"Estais cercado, teus momentos estão contados; vê na operação esboçada que
o teu fim está próximo".
Alfabetização
Egydio Schwade teve acesso às
informações sobre o desaparecimento dos waimiri-atroari à medida que se tornava
mais próximo e ganhava a confiança dos indígenas no período em que viveu com
sua família na aldeia Yawará, onde chegou em 1985 e iniciou o processo de
alfabetização em Kiñayara, língua da etnia.
O indigenista, que reside no
município de Presidente Figueiredo e sobrevive como apicultor, conta que, após
dois anos vivendo entre os waimiri-atroari, foi expulso pela Funai. Ele
acredita que isto ocorreu justamente porque os indígenas começaram a revelar os
acontecimentos da época da construção da rodovia. Para ele, a Funai, tanto na
época quanto atualmente, foi omissa e até mesmo contribuiu com a opressão e a
violência contra os indígenas.
Silêncio
"Queremos que as populações
indígenas não sejam esquecidas pela Comissão da Verdade. Os waimiri-atroari,
assim como os Cinta Larga, em Roraima, os Parakanã, no Pará, e os Suruí, em
Rondônia, foram perseguidos pelo regime militar, que tinha como estratégia
ocupar suas terras. Os índios resistiram e foram mortos. Que seja neutralizado
o silêncio que domina estes casos", alerta Egydio Schwade.
Ele diz que o que o incomoda é o
silêncio da Funai em relação a este assunto, atualmente escondido por detrás
das ações mitigadoras que foram implementadas nos anos 80, com a criação do
Programa Waimiri-Atroari, uma parceria com a Eletronorte, como forma de
compensar os impactos ambientais e sociais causados pela construção da
Hidrelétrica de Balbina. A usina alagou grande parte do território dos
waimiri-atroari.
Funai
O Coordenador do Programa
Waimiri-Atroari, José Porfírio Carvalho, que é citado nos artigos de Egydio
Schwade e acusado de participação, como indigenista, nas ações contra os
waimiri-atroari, foi procurado por email (que consta no site do Programa
Waimiri-Atroari) três dias antes do fechamento desta matéria, mas não retornou
o contato. No telefone da sede do programa, 3632-1007, ninguém atendeu.
A assessoria de imprensa da Funai
também foi procurada e enviou a seguinte resposta: "A Funai está
acompanhando as discussões sobre o assunto e vai trabalhar pela defesa dos
direitos dos povos indígenas também nesse caso".
O decreto (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12528.htm) que criou
a Comissão Nacional da Verdade é de dezembro de 2011. A assessoria de imprensa
da Casa Civil da PR disse ao jornal A CRÍTICA que "quando a comissão
começar a investigar, serão analisados todos os casos de desaparecidos,
independente da etnia".
Neste mês, a Câmara dos Deputados
criou uma Comissão da Verdade paralela, como resposta à demora da Presidência
da República em demorar em instalar a Comissão Nacional da Verdade.
Pacificação
O projeto de construção da BR-174
(Manaus-Boa Vista), que era defendido pelo governador do Amazonas, Danilo
Areosa, começou em 1968. A obra passaria por dentro do território dos
indígenas, que não foram consultados e se opuseram ao empreendimento.
Paralelamente, foram iniciadas medidas de "pacificação" dos
indígenas, envolvendo padres (o mais conhecido foi o P. Calleri, morto pelos
índios) e indigenistas da Funai.
A estratégia envolvia tentativas de
diálogos, mas foi a presença de soldados e funcionários da Funai e o uso de
armas (metralhadoras, revólveres, dinamite e até gás letal) os principais meios
de "convencimento" dos indígenas.
Estimativa de população de
waimiri-atroari feita pelo P. Calleri era de 3 mil pessoas no final dos anos
60. Nos anos seguintes, este número baixou para mil pessoas, sem que um
registro de morte fosse feito, segundo Schwade.
A partir de 1974 as estatísticas da
Funai começaram a referir números entre 600 e mil pessoas e, em 1981, restavam
apenas 354, conforme pesquisa feita por Egydio.
Pelo menos uma das várias aldeias
desaparecidas foi bombardeada por gás letal. Um sobrevivente waimiri-atroari
que foi aluno de Egydio se recordou "do barulho do avião passando por cima
da aldeia e do pó que caia".
Nos anos 80, após a repercussão
internacional das mobilizações contra os impactos causados pela Hidrelétrica de
Balbina, o Banco Mundial condicionou o financiamento da obra, que alagou terras
dos waimiri-atroari, à criação de um programa de mitigação da sua população.
O programa começou a ser
implementado em 1988, com duração de 25 anos sob a gestão da Eletronorte. O
prazo expira em 2013. Após o programa, a população de waimiri-atroari voltou a
crescer.
O acesso aos waimiri-atroari é
difícil. A reportagem tenta desde o ano passado ir ao local, mas a resposta
recorrente da coordenação do Programa é que os indígenas "estão em festa
ou caçando".
Desaparecido
O único amazonense integrante da
lista oficial de desaparecidos durante a ditadura é o Thomaz Meirelles, nascido
em Parintins em 1937. Militante de esquerda, a última notícia que se soube de
Meirelles data de 1974.
A reportagem entrou em contato com
a viúva de Meirelles, a jornalista Miriam Malina, que vive atualmente no Rio de
Janeiro, mas ela não quis dar declarações sobre o assunto nem sobre a Comissão
da Verdade. Miriam afirmou que "enquanto não souber a composição da
Comissão" prefere não se manifestar.
Amigo e companheiro na época do
Centro Popular de Cultural, Euclides Coelho de Souza, 76, defende a urgência em
dar visibilidade ao desaparecimento de Meirelles, sobretudo entre os mais jovens.
"Ele foi um importante líder do movimento estudantil nos anos 60. Foi para
a luta e o mataram. Os estudantes do Amazonas precisam conhecer sua história.
Pressionar o poder público. Este assunto não pode ficar em brancas
nuvens", disse Souza, por telefone, do Paraná, onde mora.
Thomaz Meirelles morou em Manaus
desde 1950, mas no final daquela década se mudou para o Rio de Janeiro, onde
passou a se envolver com movimento estudantil. Fez parte da União Brasileira de
Estudantes Secundaristas (UBES). Em 1963 ganhou uma bolsa para uma faculdade em
Moscou, onde conheceu sua esposa. Quando retornou, seu envolvimento com o
movimento se intensificou. A perseguição política ficou mais dura e Meirelles
passou a viver na clandestinidade. Há informações de que foi torturado e então
desapareceu. Seu corpo nunca foi encontrado.