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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

E se o maior contador de estória reagisse no governo Geraldo Alckmin, estaria vivo???

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16/09/2012 - 07h17
Alckmin usa a mesma retórica dos matadores da ditadura

MARIA RITA KEHL
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Quem não reagiu está vivo", disse o governador de São Paulo ao defender a ação da Rota na chacina que matou nove supostos bandidos numa chácara em Várzea Paulista, na última quarta-feira, dia 12. Em seguida, tentando aparentar firmeza de estadista, garantiu que a ocorrência será rigorosamente apurada.

Eu me pergunto se é possível confiar na lisura do inquérito, quando o próprio governador já se apressou em legitimar o morticínio praticado pela PM que responde ao comando dele.

"Resistência seguida de morte": assim agentes das Polícias Militares, integrantes do Exército e diversos matadores free-lancer justificavam as execuções de supostos inimigos públicos que militavam pela volta da democracia durante a ditadura civil militar, a qual oprimiu a sociedade e tornou o país mais violento, menos civilizado e muito mais injusto entre 1964 e 1985.

Suprimida a liberdade de imprensa, criminalizadas quaisquer manifestações públicas de protesto, o Estado militarizado teve carta branca para prender sem justificativa, torturar e matar cerca de 400 estudantes, trabalhadores e militantes políticos (dos quais 141 permanecem até hoje desaparecidos e outros 44 nunca tiveram seus corpos devolvidos às famílias --tema atual de investigação pela Comissão Nacional da Verdade).

Esse número, por si só alarmante, não inclui os massacres de milhares de camponeses e índios, em regiões isoladas e cuja conta ainda não conseguimos fechar. Mais cínicas do que as cenas armadas para aparentar trocas de tiros entre policiais e militantes cujos corpos eram entregues às famílias totalmente desfigurados, foram os laudos que atestavam os inúmeros falsos "suicídios".

HERZOG

A impunidade dos matadores era tão garantida que eles não se preocupavam em justificar as marcas de tiros pelas costas, as pancadas na cabeça e os hematomas em várias partes do corpo de prisioneiros "suicidados" sob sua guarda. Assim como não hesitaram em atestar o suicídio por enforcamento com "suspensão incompleta", na expressão do legista Harry Shibata, em depoimento à Comissão da Verdade, do jornalista Vladimir Herzog numa cela do DOI-Codi, em São Paulo.

Quando o Estado, que deveria proteger a sociedade a partir de suas atribuições constitucionais, investe-se do direito de mentir para encobrir seus próprios crimes, ninguém mais está seguro. Engana-se a parcela das pessoas de bem que imaginam que a suposta "mão de ferro" do governador de São Paulo seja o melhor recurso para proteger a população trabalhadora.

Quando o Estado mente, a população já não sabe mais a quem recorrer. A falta de transparência das instituições democráticas --qualificação que deveria valer para todas as polícias, mesmo que no Brasil ainda permaneçam como polícias militares-- compromete a segurança de todos os cidadãos.

Vejamos o caso da última chacina cometida pela PM paulista, cujos responsáveis o governador de São Paulo se apressou em defender. Não é preciso comentar a bestialidade da prática, já corriqueira no Brasil, de invariavelmente só atirar para matar --frequentemente com mais de um tiro.

Além disso, a justificativa apresentada pelo governador tem pelo menos uma óbvia exceção. Um dos mortos foi o suposto estuprador de uma menor de idade, que acabava de ser julgado pelo "tribunal do crime" do PCC na chácara de Várzea Paulista. Ora, não faz sentido imaginar que os bandidos tivessem se esquecido de desarmar o réu Maciel Santana da Silva, que foi assassinado junto com os outros supostos resistentes.

Aliás, o "tribunal do crime" acabara de inocentar o acusado: o senso de justiça da bandidagem nesse caso está acima do da PM e do próprio governo do Estado. Maciel Santana morreu desarmado. E apesar da ausência total de marcas de tiros nos carros da PM, assim como de mortos e feridos do outro lado, o governador não se vexa de utilizar a mesma retórica covarde dos matadores da ditadura --"resistência seguida de morte", em versão atualizada: "Quem não reagiu está vivo".

CAMORRA

Ora, do ponto de vista do cidadão desprotegido, qual a diferença entre a lógica do tráfico, do PCC e da política de Segurança Pública do governo do Estado de São Paulo? Sabemos que, depois da onda de assassinatos de policiais a mando do PCC, em maio de 2006, 1.684 jovens foram executados na rua pela polícia, entre chacinas não justificadas e casos de "resistência seguida de morte", numa ação de vendeta que não faria vergonha à Camorra. Muitos corpos não foram até hoje entregues às famílias e jazem insepultos por aí, tal como aconteceu com jovens militantes de direitos humanos assassinados e desaparecidos no período militar.

Resistência seguida de morte, não: tortura seguida de ocultação do cadáver. O grupo das Mães de Maio, que há seis anos luta para saber o paradeiro de seus filhos, não tem com quem contar para se proteger das ameaças da própria polícia que deveria ajudá-las a investigar supostos abusos cometidos por uma suposta minoria de maus policiais. No total, a polícia matou 495 pessoas em 2006.

Desde janeiro deste ano, escreveu Rogério Gentile na Folha de 13/9, a PM da capital matou 170 pessoas, número 33% maior do que os assassinatos da mesma ordem em 2011. O crime organizado, por sua vez, executou 68 policiais. Quem está seguro nessa guerra onde as duas partes agem fora da lei?

ASSASSINATOS

A pesquisadora norte-americana Kathry Sikkink revelou que o Brasil foi o único país da América Latina em que o número de assassinatos cometidos pelas polícias militares aumentou, em vez de diminuir, depois do fim da ditadura civil-militar.

Mudou o perfil socioeconômico dos mortos, torturados e desaparecidos; diminuiu o poder das famílias em mobilizar autoridades para conseguir justiça. Mas a mortandade continua, e a sociedade brasileira descrê da democracia.

Hoje os supostos maus policiais talvez sejam minoria, e não seria difícil apurar suas responsabilidades se houvesse vontade política do governo. No caso do terrorismo de Estado praticado no período investigado pela Comissão da Verdade, mais importante do que revelar os já conhecidos nomes de agentes policiais que se entregaram à barbárie de torturar e assassinar prisioneiros indefesos, é fundamental que se consiga nomear toda a cadeia de mando acima deles.

Se a tortura aos oponentes da ditadura foi acobertada, quando não consentida ou ordenada por autoridades do governo, o que pensar das chacinas cometidas em plena democracia, quando governadores empenham sua autoridade para justificar assassinatos cometidos pela polícia sob seu comando?

Como confiar na seriedade da atual investigação, conduzida depois do veredicto do governador Alckmin, desde logo favorável à ação da polícia? Qual é a lisura que se pode esperar das investigações de graves violações de Direitos Humanos cometidas hoje por agentes do Estado, quando a eliminação sumária de supostos criminosos pelas PMs segue os mesmos procedimentos e goza da mesma impunidade das chacinas cometidas por quadrilhas de traficantes?

Não há grande diferença entre a crueldade praticada pelo tráfico contra seis meninos inocentes, no último domingo, no Rio, e a execução de nove homens na quarta, em São Paulo. O inquietante paralelismo entre as ações da polícia e dos bandidos põe a nu o desamparo de toda a população civil diante da violência que tanto pode vir dos bandidos quanto da polícia.

"Chame o ladrão", cantava o samba que Chico Buarque compôs sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide. Hoje "os homens" não invadem mais as casas de cantores, professores e advogados, mas continuam a arrastar moradores "suspeitos" das favelas e das periferias para fora dos barracos ou a executar garotos reunidos para fumar um baseado nas esquinas das periferias das grandes cidades.

PELA CULATRA

Do ponto de vista da segurança pública, este tiro sai pela culatra. "Combater a violência com mais violência é como tentar emagrecer comendo açúcar", teria dito o grande psicanalista Hélio Pellegrino, morto em 1987.

E o que é mais grave: hoje, como antes, o Estado deixa de apurar tais crimes e, para evitar aborrecimentos, mente para a população. O que parece ser decidido em nome da segurança de todos produz o efeito contrário. O Estado, ao mentir, coloca-se acima do direito republicano à informação --portanto, contra os interesses da sociedade que pretende governar.

O Estado, ao mentir, perde legitimidade --quem acredita nas "rigorosas apurações" do governador de São Paulo? Quem já viu algum resultado confiável de uma delas? Pensem no abuso da violência policial durante a ação de despejo dos moradores do Pinheirinho... O Estado mente --e desampara os cidadãos, tornando a vida social mais insegura ao desmoralizar a lei. A quem recorrer, então?

A lei é simbólica e deve valer para todos, mas o papel das autoridades deveria ser o de sustentar, com sua transparência, a validade da lei. O Estado que pratica vendetas como uma Camorra destrói as condições de sua própria autoridade, que em consequência disso passará a depender de mais e mais violência para se sustentar.
FONTE:

*Roberto Carlos Ramos "O maior contador de estória" 


Qdo ouvi o governador de São Paulo explicar que quem não reagiu estava vivo, recordei de Roberto Carlos, o menino que aos seis anos, por conta de problemas familiares e publicidade enganosa é levado por sua mãe para uma recém-inaugurada instituição para crianças - a FEBEM. .

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

MPB4 e o nosso Magro



O histórico do grupo remonta a 1962, inicialmente com formação de trio, integrado por Ruy, Aquiles e Miltinho, responsáveis pelo suporte musical do Centro Popular de Cultura, da Universidade Federal Fluminense (filiado ao CPC da UNE), em Niterói.


A partir do ano seguinte, com a adesão de Magro Waghabi, passou a atuar como Quarteto do CPC, com a seguinte distribuição de vozes: Ruy (1ª voz), Magro Waghabi (2ª voz e direção musical), Aquiles (3ª voz) e Miltinho (4ª voz).

Em 1964, com a extinção dos CPCs, Magro Waghabi e Miltinho, na época estudantes de Engenharia, batizaram o conjunto como MPB-4, o que provocou, por parte de Sérgio Porto, o comentário de que o nome do quarteto parecia "prefixo de trem da Central do Brasil". Por esse motivo, durante muito tempo, atribuiu-se ao jornalista a autoria do nome do grupo. Nesse mesmo ano realizou sua primeira apresentação profissional, na Boate Petit Paris, em Niterói. Também em 1964, gravou seu primeiro disco, um compacto duplo intitulado Samba Bem, contendo as faixas "Samba da Minha Terra" (Dorival Caymmi), "Lavadeira" (Silveirinha), "Mascarada" (Zé Kéti e Élton Medeiros) e "Vida do Sem" (Miltinho e Waghabi), essa última incluída na peça "O Menino e a Bola", criação de Carlos Vereza e dos integrantes do quarteto.

Em 1965, Ruy, Magro Waghabi, Aquiles e Miltinho, ainda estudantes, viajaram de férias para São Paulo, onde, na Boate “Ela, Cravo & Canela”, por intermédio do escritor e compositor Chico de Assis, conheceram Chico Buarque e as integrantes do Quarteto em Cy. Chico de Assis os apresentou a Manoel Carlos. O MPB4 para se apresentar no programa O Fino da Bossa, da TV Record, ao lado do Quarteto em Cy, e para cantar ao lado de Elis Regina Elis Regina, apresentadora do programa, junto com Jair Rodrigues. Ainda em São Paulo, o conjunto atuou mais uma vez ao lado do Quarteto em Cy, apresentando, na boate Le Club, o show "No Samba Que Eu Vou", cujo roteiro foi assinado por Chico de Assis. Em uma das apresentações, encontrava-se presente na platéia o produtor Aloysio de Oliveira, que convidou-os para gravar no selo Elenco. De volta ao Rio de Janeiro, o grupo lançou um compacto simples, contendo as canções "Samba Lamento" (Luiz Marçal) e "São Salvador" (Roberto Nascimento). Ainda em 1965, dividiu o palco da Boate Zum Zum com Oscar Castro Neves, Rosinha de Valença e o Quarteto em Cy, no show "Contraponto", com direção de Aloysio de Oliveira. Participou, também, do histórico espetáculo "O Samba Pede Passagem" (uma idealização de Sérgio Cabral), dirigido por João das Neves, apresentando-se ao lado de  Aracy de Almeida e Ismael Silva, dentre outros. O show, lançado em disco, foi realizado no Teatro Opinião (RJ), substituindo o espetáculo teatral "Brasil Pede Passagem", proibido pela censura.

Em 1966, integrou, ao lado de Betty Faria, Fernando Lébeis, José Wilker, José Damasceno e Cécil Thiré, a ópera popular "João Amor e Maria", de Hermínio Bello de Carvalho e de Mauricio Tapajós, cuja trilha sonora, composta por Mauricio, contou com algumas letras de Antônio Carlos Brito (Cacaso). O espetáculo, que teve direção de Kleber Santos e Nélson Xavier, e cenários de Marcos Flaksman, foi apresentado no Teatro Jovem (RJ). Participou, também, ao lado da musa da bossa nova, do show "Quem Tem Medo de Nara Leão?", realizado na Boate Cangaceiro (RJ), com direção de Guilherme Araújo e Ferreira Gullar. Ainda em 1966, gravou seu primeiro LP, "MPB-4", com destaque para as canções "Lamentos" (Pixinguinha e Vinícius de Moraes), "Juca", "Olé, Olá" e " Sonho de Um Carnaval", todas de Chico Buarque. Participou, nesse mesmo ano, do II Festival da Música Popular Brasileira (TV Record), classificando "Canção de Não Cantar", de Sérgio Bittencourt, em 4º lugar.

Em 1967, gravou mais um LP intitulado "MPB-4", contendo "Cordão da Saideira" (Edu Lobo), "Fica", "Morena dos Olhos d'Água" e "Quem Te Viu, Quem Te Vê", todas de Chico Buarque", além de "Canção a Medo" (Sérgio Bittencourt), gravada com a participação do Quarteto em Cy, dentre outras. Nesse mesmo ano, participou do III Festival da Música Popular Brasileira (TV Record), interpretando as canções "Gabriela" (Maranhão) e "Roda-Viva" (Chico Buarque), esta última com o autor. Ambas, com arranjos vocais de Magro Waghabi, foram classificadas em 6º e 3º lugares, respectivamente. Também em 1967, classificou as canções "O Sim `Pelo Não" (Alcivando Luz e Carlos Coqueijo) e "Cantiga" (Dori Caymmi e Nélson Motta) em 6º e 9º lugares, respectivamente, no II Festival Internacional da Canção (TV Globo).

Em 1968, gravou o LP "MPB-4", registrando "Ela Desatinou" (Chico Buarque), "Estrela É Lua Nova" (Villa-Lobos), com a participação do coral do Centro Educacional de Niterói, "Sabiá" (Tom Jobim e Chico Buarque) e "Sentinela" (Milton Nascimento e Fernando Brant), dentre outras, além de "Por Acaso", uma parceria de Ruy e Cynara. Ainda nesse ano, apresentou-se com Chico Buarque no Teatro Toneleros (RJ), com direção de João das Neves, e realizou temporada de shows na Boate Blow Up (SP).

Em 1969, dividiu o palco do Teatro Opinião (RJ) com a dupla Cynara & Cybele, no show "Bacobufo no Caterefofo".
No ano seguinte, voltou a se apresentar com Chico Buarque, em show realizado na casa noturna Sucata (RJ). Lançou, também em 1970, o LP "Deixa Estar", registrando a primeira gravação de uma música de Aldir Blanc, "Amigo É Pra Essas Coisas" (com Silvio da Silva Jr.), classificada em segundo lugar no III Festival Universitário da MPB, além de "Pelo telefone" (Donga e Mauro de Almeida), a faixa-título (Maurício Tapajós e Hermínio Belo de Carvalho) e "Beco do Mota" (Milton Nascimento e Fernando Brant) e "Mar da tranqüilidade", uma parceria de Ruy, Cynara e Aquiles, dentre outras.

Em 1971, gravou o LP "De Palavra em Palavra", contendo "Cravo e Canela" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), "Eu Cheguei Lá" (Dorival Caymmi) e "Pois É, Pra Quê?" (Sidney Miller), dentre outras, além da faixa-título, uma parceria de Miltinho com Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, e de "Minha História", versão de Chico Buarque para a canção "Gesubambino" (Dalla e Pallottino). Nesse mesmo ano, dividiu o palco do Canecão (RJ) com Chico Buarque, Jacques Klein e a Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência do maestro Isaac Karabtchevsky, no histórico espetáculo "Construção".

Em 1972, apresentou-se em Portugal, com Chico Buarque. Lançou, ainda nesse ano, o LP "Cicatrizes", com destaque para "San Vicente" (Milton Nascimento e Fernando Brant), "Partido-Alto" (Chico Buarque), "Pesadelo" (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro) e a faixa-título, uma parceria de Miltinho com Paulo César Pinheiro.

Em 1973, voltou a se apresentar com Chico Buarque, dessa vez em Buenos Aires.
No ano seguinte, 1974, gravou o LP "Antologia do Samba", contendo obras de Monsueto, Chico Buarque, Ismael Silva, Ataulfo Alves, Noel Rosa, Dorival Caymmi, Baden Powell, Tom Jobim, Nélson Cavaquinho e Paulinho da Viola. Dividiu o palco do Teatro Casa Grande (RJ) com Chico Buarque, no show "Tempo e Contratempo". 

Também em 1974, lançou o LP "Palhaços e Reis". O disco, produzido por Paulinho Tapajós, registrou, dentre outras, as canções "Mordaça" (Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro), "Agora é Portela 74" (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro), "Fé Cega, Faca Amolada" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) e "Chegança" (Edu Lobo e Oduvaldo Vianna Filho), além da faixa-título (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Barros) e da composição "Nosso Mal", uma parceria de Miltinho com Maurício Tapajós.

Em 1975, apresentou, no Teatro Fonte da Saudade (RJ), o espetáculo "MPB-4 na República do Peru". O roteiro, escrito pelos integrantes do grupo, em parceria com Chico Buarque e Antônio Pedro, foi vetado pela Censura após cinco apresentações, gerando um show em forma de recital, contendo apenas o repertório musical. Lançou, ainda nesse ano, o LP "Dez Anos Depois". O disco, também produzido por Paulinho Tapajós, registrou as canções "De Frente Pro Crime" (João Bosco e Aldir Blanc), "Manhã de Carnaval" (Luiz Bonfá e Antônio Maria), "Galope" (Gonzaguinha), "Canto Triste" (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), "Passaredo" (Francis Hime e Chico Buarque), "Ana Luiza" (Tom Jobim), "Pressentimento" (Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho), "Praias Desertas" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), "Amei Tanto" (Baden Powell e Vinícius de Moraes), "Evangelho" (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), "Vera Cruz" (Milton Nascimento e Márcio Borges), além de "Assim Seja, Amém", uma parceria de Miltinho com Gonzaguinha. Apresentou-se, também, no Teatro Fonte da Saudade (RJ), com o show "MPB-4 no Safári", título escolhido para substituir "República de Ugunga", que havia sido vetado pela Censura.

Em 1976, gravou o LP "Canto dos Homens". No repertório, músicas como "Corrente" e "Vai Trabalhar Vagabundo", ambas de Chico Buarque, "Negro, Negro" (Edu Lobo e Capinam), "Bola ou Búlica" e "O Ronco da Cuíca", ambas de João Bosco e Aldir Blanc, "Chão, Pó, Poeira" (Gonzaguinha) e "Aparecida" (Ivan Lins e Maurício Tapajós), dentre outras, além da faixa-título, uma parceria de Miltinho com Paulo César Pinheiro. O show de lançamento do disco estreou no Teatro da Galeria (RJ), sob o título de "Jornal Depois de Amanhã", com direção de Antônio Pedro e texto de Aldir Blanc. Esse espetáculo foi realizado em substituição a outro que continha o texto de Carlos Eduardo Novaes "MPB-4 no País das Maravilhas", vetado na íntegra pela Censura Federal.

Em 1977, lançou o LP "Antologia do Samba nº 2", contendo obras de Ivan Lins, Cartola, Maurício Tapajós, Haroldo Lobo, Haroldo Barbosa, Zé Kéti, Pixinguinha, Ary Barroso, Wilson Batista e Billy Blanco.

No ano seguinte, gravou, com o Quarteto em Cy, o LP "Cobra de Vidro", registrando "Nada Será Como Antes" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), "A estrada e o Violeiro" (Sidney Miller), "Não Existe Pecado ao Sul do Equador" (Chico Buarque e Ruy Guerra), "O Cio da Terra" (Milton Nascimento e Chico Buarque), "Me Gustan los Estudiantes" (Violeta Parra), "Oriente" (Gilberto Gil) e "Because" (Lennon e McCartney), dentre outras. Apresentou-se, ao lado do Quarteto em Cy, no Teatro Carlos Gomes (RJ), em espetáculo de mesmo nome,que registrou a estreia, como roteirista e diretor, de Túlio Feliciano, e a apresentação da inédita canção "Angélica" (Miltinho e Chico Buarque), uma homenagem a Zuzu Angel.

Em 1979, lançou o LP "Bons Tempos, Hein?", contendo "Fantasia" (Chico Buarque), "Se Meu Time Não Fosse o Campeão" (Gonzaguinha), "Tropicália" (Caetano Veloso), "Cálice" (Chico Buarque e Gilberto Gil), "Pobre del Cantor" (Pablo Milanés) e "Nascente" (Flávio Venturini e Murilo Antunes), dentre outras, além de "Angélica". Estreou show homônimo no TAIB (SP), com texto de Millor Fernandes e direção de Benjamim Santos, que ficou em cartaz durante cinco meses.

Em 1980, gravou o LP "Vira Virou", registrando "Olhar de Cobra" (Moraes Moreira e Rizério), "A Lua" (Renato Rocha), "Bilhete" (Ivan Lins e Vitor Martins) e "Vira Virou" (Kleiton Ramil), dentre outras. Realizou show de lançamento do disco no Teatro Teresa Raquel (RJ). Ainda nesse ano, lançou, com o Quarteto em Cy, o LP infantil "Flicts - de Ziraldo e Sérgio Ricardo".

Em 1981, gravou mais um LP infantil, "Adivinha o Que É", obra de Renato Rocha, contendo canções como "O Som dos Bichos" (Renato Rocha e G. Amaral), "O Galo Cantor" (Renato Rocha e G. Amaral) e "O Pato" (Toquinho e Vinícius de Moraes), esta última apresentada pelo grupo no especial da TV Globo "A arca de Noé". Estreou show homônimo no Canecão (RJ), com direção de Benjamim Santos. Ainda  nesse ano, lançou o LP "Tempo Tempo", registrando as canções "Almanaque" (Chico Buarque) e "Oração ao Tempo" (Caetano Veloso), dentre outras, além de composições de Miltinho, "Cavalo de Batalha" (com Paulo César Pinheiro e Zé Renato) e "Anjo Sereia" (com Alceu Valença), "Mulher Maio" (Ruy e Ary dos Santos), "Magia" (Magro Waghabi e Kleiton Ramil) e "Doce, Doce" (Magro Waghabi e Miltinho). Posteriormente, apresentou esse mesmo show no Tuca (SP), também com direção de Benjamim Santos.

Em 1983, gravou o LP "Caminhos Livres", contendo "Baile no Meu Coração" (Paulo Leminski e Moraes Moreira), "Papo de Passarim" (Zé Renato e Xico Chaves), "Porto Seguro" (Marcelo Alkmin e Flávio Venturini), "Lindo Balão Azul" (Guilherme Arantes) e "A Nível de..." (Aldir Blanc e João Bosco), dentre outras, além de "Voo do Amor", uma parceria de Ruy com Rosana Ferrão, e "Palhacinha", de Magro Waghabi e Miltinho. Apresentou-se no Canecão, em show homônimo dirigido por Benjamim Santos.

Em 1984, lançou o LP "4 Coringas", registrando "Bacurizim" (Gilberto Gil), "Tema de Amor de Gabriela" (Tom Jobim), "Alegria Brasil" (Gonzaguinha), "Entre o Torresmo e a Moela" (Aldir Blanc e Maurício Tapajós) e "Quatro Coringas" (Vitor Martins e Ivan Lins), dentre outras, além de "Mais Coração", uma parceria de Miltinho com Paulo César Pinheiro e Zé Renato, e "Pastor da Noite", de Magro Waghabi e Miltinho. Estreou show de lançamento do disco no Teatro da Galeria (RJ).

Em 1987, gravou o LP "Feitiço Carioca - do MPB-4 para Noel Rosa", contendo obras do poeta da Vila, como "Pierrô apaixonado" (c/ Heitor dos Prazeres), "Com que roupa", "Feitio de Oração" e "Conversa de Botequim" (c/ Vadico), dentre outras, além de "Felicidade", de René Bittencourt. Realizou show homônimo na casa de espetáculos Boteco-Teco, com roteiro e direção de Ruy Faria e texto de Aldir Blanc.

Em 1989, apresentou, no Canecão, o show "Amigo É Pra Essas Coisas", com texto de Luís Fernando Veríssimo e direção de Túlio Feliciano, depois gravado ao vivo na casa de espetáculos Scala. No repertório, as músicas "Canções e Momentos" e "Canção da América", ambas de Milton Nascimento e Fernando Brant, "Olê Olá", "Roda-Viva" e "Quem Te Viu, Quem Te Vê", todas de Chico Buarque, "A Lua" (Renato Rocha), "Vira Virou" (Kleiton Ramil), "A Nível de..." (Aldir Blanc e João Bosco), "O Que Vale É a Amizade”, versão de Paulo César Pinheiro para “With a Little Help From My Friends”, de Lennon e McCartney, "Por Quem Merece Amor”, uma versão de Miltinho para “Por Quien Merece Amor”, de Silvio Rodriguez, "Faz Parte do Meu Show" (Renato Ladeira e Cazuza), "Paula e Bebeto" (Caetano Veloso e Milton Nascimento), "Amor de Índio" (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e a canção-título (Sílvio da Silva Júnior e Aldir Blanc), além de "Parceria em Marcha Lenta", de Magro Waghabi e Luís Fernando Veríssimo. O espetáculo reuniu pela primeira vez no palco duas gerações de músicos: o MPB4 acompanhado por Marcos Feijão (bateria e percussão), filho de Miltinho, Pedro Reis (violão, guitarra e bandolim), filho de Aquiles, João Faria (baixo e violão), filho de Ruy, e Eduardo Waghabi (teclados), filho de Magro Waghabi.

Em 1991, gravou o CD "Sambas da Minha Terra", contendo obras de Dorival Caymmi, Toquinho & Vinícius, Zé Kéti e Ary Barroso, dentre outros, apresentando-se no Teatro da Barra (RJ), com direção de Túlio Feliciano.
Em 1993, lançou o CD "Encontro Marcado - MPB-4 canta Milton Nascimento", registrando obras do compositor mineiro, apresentando-se em show homônimono Canecão.

Em 1995, comemorando 30 anos de carreira, realizou, no Teatro Rival (RJ), o espetáculo "Arte de Cantar", com direção e texto de Miguel Fallabela. O show foi gravado ao vivo, gerando o CD que registrou sucessos da carreira do MPB4, como "Roda Viva" (Chico Buarque), "Canto Triste" (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), em interpretação a capela, e "Amigo É Pra Essas Coisas" (Sílvio da Silva Júnior e Aldir Blanc), dentre outros, além das canções inéditas "Soberana Rosa" (Ivan Lins, Vítor Martins e Chico César) e "Sépia & Flash" (Guinga e Aldir Blanc), feita especialmente para o MPB4.

Em 1997, gravou, com o Quarteto em Cy, o CD "Bate-Boca", registrando obras de Tom Jobim e Chico Buarque. Estreou show no Teatro Municipal de Niterói, com direção de Túlio Feliciano.
No ano seguinte, lançou mais um CD com o Quarteto em Cy, "Somos Todos Iguais", contendo exclusivamente canções de Djavan, como "Fato Consumado", e da dupla Ivan Lins e Vitor Martins, como "Somos Todos Iguais Nesta Noite". Estreou show de lançamento do disco no Canecão (RJ), dividindo o palco com o Quarteto em Cy, sob a direção de Luiz Carlos Maciel.

Em 1999, lançou o CD "Melhores Momentos", gravado ao vivo no Teatro Rival (RJ). No repertório, as canções "O cafona" (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) e "Yolanda" (Pablo Milanés, numa versão de Chico Buarque), além de "Por Quem Merece Amor", versão de Miltinho para "Por Quien Merece Amor", de Silvio Rodrigues, e da regravação de "Cicatrizes", uma parceria de Miltinho e Paulo César Pinheiro, dentre outras.

Em abril de 2000 viajaram para Portugal para participar do I Festival de Músicas Latinas, em Vila Nova de Famalicão, onde também se apresentaram  o grupo pernambucano Mestre Ambrósio e o fadista Carlos do Carmo.

Ainda em 2000, voltou a gravar um CD com o Quarteto em Cy, "Vinícius - a Arte do Encontro". O disco contou com a direção artística de Ruy Faria, que assinou a seleção do repertório e viabilizour o encontro dos dois grupos com Vinícius de Moraes, 20 anos após seu falecimento, registrando a voz do poeta em algumas faixas, graças a técnicas especiais de gravação. No repertório, canções como "Minha Namorada" (Vinícius e Carlos Lyra), "Arrastão" (Vinícius e Edu Lobo), "Chega de Saudade" (Vinícius e Tom Jobim) e "Samba da Bênção" (Vinícus e Baden Powell), além de "Samba pra Vinícius", de Chico Buarque e Toquinho, e "Odeon", de Ubaldo Sciangula e Ernesto Nazareth. Realizou show de lançamento do disco no Canecão (RJ), ao lado do Quarteto em Cy. O espetáculo contou com roteiro, adaptação de texto, direção geral e produção de Ruy Faria. Ainda nesse ano, apresentou-se no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil, encerrando o ciclo "MPB, a História de Um Século", série de quatro espetáculos escritos e dirigidos por Ricardo Cravo Albin, em comemoração aos 500 anos do Descobrimento do Brasil. O show do MPB4, que compreendia o período musical de 1960 (festivais de música) a 2000, foi gravado e transmitido para todo o país pela Rede Brasil, liderada pela TVE do Rio de Janeiro.

Em 2001, lançou CD "MPB-4 e a Nova Música Brasileira", que contou com a participação de Jairzinho Oliveira e Max de Castro, responsáveis pela produção, arranjos de base, violões, teclados e programação. No repertório, canções como “Posso Até Me Apaixonar” ( Dudu Nobre), "Paciência" (Lenine e Dudu Falcão), "Lenha" (Zeca Baleiro), "À Primeira Vista" (Chico César)  e "Mentiras" (Adriana Calcanhoto), dentre outras, além de "Eu Sou a Árvore", versão de Chico Buarque para "Y Tu que Hás Hecho?" (Eusébio Delfin).
Todos os shows realizados pelo grupo ao longo de sua carreira tiveram direção musical de Magro Waghabi, com exceção de "Feitiço Carioca", assinado por Maurício Maestro.


Atuando com a formação original desde o início de sua trajetória, o grupo foi indicado, na edição brasileira do "Guiness Book" (o livro dos recordes), de 1996, como o grupo vocal que se manteve por mais tempo atuando no cenário artístico com a mesma formação.

Foi contemplado três vezes com o Prêmio Sharp, na categoria Melhor Conjunto (1987, 1989 e 1995).

Em 2002, apresentou-se em São Paulo, no circuito SESC, no Rio de Janeiro (Mistura Fina, Bar do Tom, Garden Hall) e em outras cidades brasileiras.

Em 2004, participou, ao lado de Gilberto Gil e de outros artistas, da gravação do CD "Hino do Fome Zero" (Roberto Menescal e Abel Silva). Nesse mesmo ano, Ruy Faria desligou-se do grupo, sendo substituído pelo cantor Dalmo Medeiros. A estréia do novo integrante se deu quando o grupo fez o show de encerramento do evento "64 + 40: Golpe e Campo(us) de Resistência", realizado no campus da UFRJ, na Praia Vermelha. Nesse mesmo ano, foi relançado em CD o disco "Cicatrizes", de 1972.
Em 2006 gravou, pela EMI, o CD e DVD comemorativos de 40 anos de carreira, no Teatro do SESC Vila Mariana, em São Paulo, tendo como convidados: Roberta Sá, Quarteto em Cy, Zeca Pagodinho, Milton Nascimento e Cauby Peixoto, tio de Dalmo Medeiros. O disco teve também a participação especial de Chico Buarque que cantou com o MPB4 “Roda Viva”, de sua autoria e “Quem Acreditou na Vida Como Eu”, música, até então inédita, do compositor Sidney Milller.

Em julho de 2007 estrearam no Canecão, no Rio de Janeiro, o show ”Toquinho e MPB4 – 40 Anos de Música”, iniciando em seguida turnê por várias cidades: Campinas, no Centro de Convivência; Belo Horizonte, no Freegels; Porto Alegre, no Teatro Bourbon, e em São Paulo, no Tom Brasil.

Em 2008 prosseguiram com seus shows do DVD/CD 40 Anos e retornaram ao Rio de Janeiro, no Vivo Rio, com o show Toquinho e MPB4, seguindo com este espetáculo para Juiz de Fora, no Teatro Central.
A temporada do show com Toquinho prosseguiu em BH, novamente no Freegels, e em Recife, no Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), retornando a São Paulo, no agora HSBC Tom Brasil.

Ainda em 2008 gravaram, no Teatro FECAP, em São Paulo, o CD/ DVD deste show: “Toquinho e MPB4, 40 anos de música”, lançado pela gravadora Biscoito Fino.
Em 2009 prosseguiram com os shows dos DVDs/CDs “MPB4-40 Anos” e “Toquinho e MPB4”, além de circuitos pelas unidades do SESC de São Paulo.

Estão gravando o CD “Boleros, Uma Antologia” com novas versões dos mais bonitos boleros feitas pelos grandes letristas da MPB (Caetano Veloso, Celso Viáfora, Fernando Brant, Paulo César Pinheiro, Vítor Ramil, Zélia Duncan e outros), com lançamento previsto para 2010.

Fonte : http://www.mpb4.com.br/noticias/historia/cronologia


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Há plano para jogar no lixo dois séculos de conquista





O alerta de Eduardo Galeano:
Há plano para jogar no lixo dois séculos de conquista

“Este é um mundo violento e mentiroso, mas não podemos perder a esperança e o entusiasmo pela mudança”, diz Eduardo Galeano.
Eduardo Galeano:
"O mundo é violento, mas não podemos perder a esperança".
O escritor uruguaio, historiador literato de seu continente, através de obras como “As Veias Abertas da América Latina” e da trilogia “Memória do Fogo”, falou nesta entrevista sobre os últimos acontecimentos na América Latina e a crise econômica mundial.
De sua mesa de sempre no central Café Brasileiro, deixando atrás da janela o frio do inverno austral, insiste que “a grandeza do homem está nas pequenas coisas, que são feitas cotidianamente, dia a dia, por anônimos sem saber que as fazem”.
Ele alterna as respostas com episódios de seu último livro, “Os Filhos dos Dias”, em que agrupa 366 histórias verdadeiras, uma para cada dia do ano, que contêm mais verdade do que falar sobre inidcadores de risco.
Confira abaixo a entrevista para a rede BBC
A crise europeia está sendo tratada pelos líderes políticos a partir de um discurso de sacrifício da população.
Eduardo Galeano: É igual ao discurso dos oficiais quando eles mandam os recrutas para morrer, com menos cheiro de pólvora, mas não menos violento.
Este é um plano sistemático em nível mundial para jogar no lixo dois séculos de conquistas dos trabalhadores, para que a humanidade retroceda em nome da recuperação nacional. Este é um mundo organizado e especializado no extermínio do próximo.
E então condenam a violência dos pobres, dos mortos de fome; a outra se aplaude, merece condecorações.
A “austeridade” está sendo apresentada como única saída?
Galeano: Para quem? Se os banqueiros que causaram esse desastre foram e continuam sendo os principais ladrões de banco e são recompensados ​​com milhões de euros que lhe são pagos como compensação…
É um mundo muito mentiroso e muito violento. A austeridade é um antigo discurso na América Latina. Assistimos a uma peça de teatro que foi estreada aqui e já a conhecemos.
Sabemos tudo: as fórmulas, as receitas mágicas, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial
Você considera que o empobrecimento da população é mais violento?
Galeano: Se a luta contra o terrorismo fosse verdadeira e não uma desculpa para outros fins, teríamos que cobrir o mundo com cartazes que dissessem: “procuram-se os sequestradores de países, os exterminadores de salários, os assassinos de emprego, os traficantes do medo “, que são os mais perigosos, porque te condenam à paralisia.
Este é um mundo que te domestica para que desconfies do próximo, para que seja uma ameaça e nunca uma promessa. É alguém que vai te fazer dano e, para isso, é preciso defender-se. Assim se justifica a indústria militar, nome poético da indústria criminosa. Esse é um exemplo claríssimo de violência.
Passando à política latino-americana, o México continua nas ruas protestando contra os resultados oficiais das eleições…
Galeano: A diferença de votos não foi tão grande e pode ser difícil provar que houve fraude. No entanto, há uma outra fraude mais profunda, mais fina e que é mais nociva à democracia: a que cometem os políticos que prometem tudo ao contrário do que depois fazem no poder. Assim eles estão agindo contra a fé na democracia das novas gerações.
Quanto à destituição de Fernando Lugo no Paraguai, pode-se falar de golpe de estado se ela foi baseada nas leis do país?
Galeano: Está claro que no Paraguai foi suave e amplamente um golpe de Estado. Eles golpearam o governo do padre progressista não pelo que tenha feito, mas pelo que poderia fazer.
Não tinha feito grande coisa, mas, como propunha uma reforma agrária – em um país que tem o grau de concentração de poder da terra mais alto na América Latina e em consequência a desigualdade mais injusta – teve algumas atitudes de dignidade nacional contra algumas empresas internacionais toda-poderosas como a Monsanto e proibiu a entrada de algumas sementes transgênicas…
Foi um golpe de Estado preventivo, apenas no caso de, não pelo que és mas pelo que podes chegar a fazer.
Lhe surpreende que continuem ocorrendo essas situações?
Galeano: O mundo hoje é muito surpreendente. A maioria dos países europeus que pareciam estar vacinados contra golpes de Estado são agora governos governados pelas mãos de tecnocratas designados a dedo por Goldman & Sachs e outras grandes empresas financeiras que não foram votadas por ninguém.
Até mesmo a linguagem reflete isso: os países, que se supõe que são soberanos e independentes, têm que fazer bem seus deveres, como se fossem crianças com tendência à má conduta, e os professores são os tecnocratas que vêm para puxar suas orelhas.

Fonte: BBChttp://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/07/entrevista-com-eduardo-galeano-sobre-rumos-do-planeta.html   Postado em: 24 jul 2012 às 22:24

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O MESTRE DA PACIÊNCIA




Conta a lenda que um velho sábio, tido como mestre da paciência, era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde, um homem conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu com a intenção de desafiar o mestre da paciência. O velho aceitou o desafio e o homem começou a insultá-lo. Chegou a jogar algumas pedras em sua direção, cuspiu em sua direção e gritou todos os tipos de insultos.

Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível.
No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o homem se deu por vencido e retirou-se. Impressionados, os alunos perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta indignidade. O mestre perguntou:
- Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?
- A quem tentou entregá-lo. Respondeu um dos discípulos.
- O mesmo vale p/ a inveja, a raiva e os insultos. Quando não aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo.

A sua paz interior depende exclusivamente de você.
As pessoas não podem lhe tirar a calma.....a não ser que você permita!!!!!!Conta a lenda que um velho sábio, tido como mestre da paciência, era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde, um homem conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu com a intenção de desafiar o mestre da paciência. O velho aceitou o desafio e o homem começou a insultá-lo. Chegou a jogar algumas pedras em sua direção, cuspiu em sua direção e gritou todos os tipos de insultos.

Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível.
No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o homem se deu por vencido e retirou-se. Impressionados, os alunos perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta indignidade. O mestre perguntou:
- Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?
- A quem tentou entregá-lo. Respondeu um dos discípulos.
- O mesmo vale p/ a inveja, a raiva e os insultos. Quando não aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo.

A sua paz interior depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a calma.....a não ser que você permita!!!!!!

Ano Zero


Marlene checou uma vez mais o endereço no cartão de visitas. "Doutor Oublier". Ali estavam suas esperanças últimas, haveria de dar certo. O tal consultório ficava em uma ruazinha escondida atrás da Central do Brasil, em um velho sobrado esquecido no tempo. Algo de "verde-mofo" na fachada, nenhuma placa. Só o número 5 na rua indicada. Passara a manhã revisitando pequenos guardados antes de sair...um caderno de tentativas poéticas, fotos que, de tão velhas, já estavam sépias, cores lavadas pelo tempo. Uma grande caixa estampada guardava um sem fim de emaranhado de fitas de cores muitas, adorava fitas. Sempre que recebia um presente, coisa meio que rara (e ainda mais com laço de fita...), invariavelmente, as guardava. Gostava de laços...Apesar da idade avançada, nem velha, nem menina, ainda adornava, vez por outra, seus cabelos escuros já riscados por alguns fios brancos com o tal adereço. O desse dia tão importante era azul como o céu que acompanhava seu ansioso percurso. Escolhera sua saia predileta: branca, rodada, com "poás" amarelos. Camisa branca bem cortada, sapatinhos de boneca, algo de blush nas faces naturalmente ruborizadas de expectativas. Na mão, uma bolsa vermelha. Marlene e seus contrastes...

Subiu num só fôlego as escadas que estalavam a cada pisada, como se fosse desabar. Deu de cara com uma porta aberta, onde já era esperada, para seu espanto. Um homem, nem feio, nem bonito; também nem velho, nem menino. Usava calças cinzas, sapatos gastos e suspensórios sobre uma camisa azul. Os óculos do tal Oublier eram  remendados com esparadrapo já meio ensebado pelo manuseio. Não recuou, apesar do desconforto inicial causado pela figura. Estava decidida. Olhou para os lados: paredes nuas, nenhuma gravura, nenhuma informação. Até que fazia algum sentido. Com um gesto, Oublier apontou uma linda poltrona floral, talvez o único objeto bonito naquela sala de um beje indefinível.

- O que a traz aqui? - começou o homem, já esperando como resposta o que quase todas as criaturas aflitas buscavam ao cruzar aquela porta.

-Paz.- respondeu Marlene. Por essa não esperava o tal "especialista".

-Como? Sou especialista em deletar memórias. Zerar experiências. Sou o mago do esquecimento, não acredito em superação de traumas. Paz?

-Oras, Doutor Oublier, paz! É a mesma coisa...tudo isso que o senhor disse ai para mim se resume em paz...Você pode limpar minha memória? Como um computador? Esvaziar a lixeira? Tem que ser irreversível.

-Mas ninguém quer esquecer tudo...

-Eu quero. Não queria ter que dar com a cabeça em um poste, por isso estou aqui. Me machucaria sem garantias de uma amnésia absoluta. Pode ou não pode?

-Posso. Minha sorte é que com esse esquecimento total, não há do que reclamar, nem com quem reclamar. Isso que me pede a fará esquecer até mesmo quem sou.

-Ótimo. É algum remédio? Me dê a receita, a fórmula...trouxe dinheiro.

-Não. Não lido com fármacos. Lido com a escuta. Um momento...

Oublier abaixou e pegou, embaixo de sua cadeira de madeira carcomida, um baú vazio. Abriu a caixinha, pousando-a sobre uma mesinha redonda ao lado de seu assento.

-Marlene seu nome, né? Pois bem, Marlene, me fale o que quiser. Fale o que te aflige mais. Fale tanto quanto possível. Por sorte, hoje só tenho você para atender...ficará tudo retido aqui. Não devolvo o baú de memórias, mas como já disse, você não vai mesmo se lembrar de nada. Com sorte, reaprenderá tudo, por caminhos novos. Lembrando que pessoas esquecidas são tidas como dementes.

-Sem problemas. Já sou tida como demente, mesmo tendo uma memória mais que razoável. Tanto faz. Nem sei se você é sério, mas não tenho tanto a perder.

-Então comece.

-Quero esquecer tudo.

-Filhos?

-Um só, já crescido, vivendo em outro país. Essa missão está cumprida. Quero esquecer o que sou, mas principalmente, o que nunca fui ou serei. Quero esquecer que sinto medo de quase tudo...mais! Quero esquecer que o medo existe. Quero esquecer as mentiras que me contaram...quero esquecer as mentiras que contei para mim mesma. Quero esquecer que nasci em um país repleto de mentiras e dor. Quero esquecer minhas fantasias, que muitas vezes, são as únicas razões de continuar viva e sofrendo por elas. Quero esquecer o que significa saudade. Quero esquecer que vivo em um mundo onde se ama quase sempre pela metade. Quero esquecer as porradas literais e simbólicas que, de tantas, nem sei quantas foram. Quero esquecer quem fez essa cicatriz que trago na testa. Quero esquecer meus pequenos prazeres, meus desenhos tortos, minha tara por doce de leite, minha vaidade rasa, minha carência infantil...quero esquecer meus amores enterrados em cemitérios e lembranças, as calúnias que me levaram o sono, meus momentos de ira que roubaram sonos alheios, minha família inexistente(................................), enfim, quero esquecer, muito mais do que sou, o que nunca fui e nunca serei (etc, etc).

Oublier era um homem frio, que não entrava em méritos de valor algum. Segurou-se muito para dizer que Marlene era muito, mas muito mais interessante que ela jamais poderia supor. Além de linda. Uma voz firme a agradável. Segurou-se! Não deixaria que aquele rosto soasse como um canto de sereia. Tinha uma reputação a zelar...não seria ela a primeira a voltar para reclamar a posse da própria história. Ele tinha um dom, e não se faria ausente à missão para a qual não cobrava um centavo sequer. Mas ainda tentou algo, com uma voz quase vacilante...

-Marlene...eu ainda não fechei o baú...quando isso acontecer, estará feito...acho que você já disse tudo que importa, o Sol até já se foi...é noite.

-Pois feche o baú.

-Entende que será como nascer agora em um corpo avançado em anos?

-Detalhe sem importância. Feche o baú.-Marlene estava absolutamente convicta.

Oublier fechou com um estranho pesar. Feito isso, Marlene assumiu o semblante de uma boneca de porcelana. Cumprindo um protocolo, o homem esvaziou sua bolsa de seus documentos. Dentro, deixou um espelho que pudesse ser um ponto de partida para uma possível nova vida. Ou ao menos, uma nova existência. Não fizera nada assim antes, mas Marlene...ah, Marlene deslocara algo estranho dentro dele. Gostaria, no íntimo, de ter falhado. Mas isso nunca (jamais!) acontecera antes. Todo mundo saía "deletado" dali.

-Pode ir, moça...

Marlene se levantou, desceu as escadas...andou sem rumo até o sol nascer de novo...foi encontrada por uma vizinha de prédio e conduzida à sua casa. Não diria palavra sequer, tampouco oferecia resistência. Ao fechar a porta atrás de si, já estava informada de se chamar Marlene. Deu de ombros, sentia cansaço. Passou pela cozinha. Uma maçã muito vermelha atraiu seu olhar virgem de registros significativos. O cheiro era bom...comeu a maçã e desabou em sono profundo.

Do outro lado da cidade, Oublier voltava da praia, onde jogava ao mar os baús dos agoniados que, por décadas, atravessavam sua porta em busca do "alívio". Ao entrar em seu quarto, deu de cara com o de Marlene. Uma semana se passava, e mais outra, e outros baús ganhavam o Oceano...menos o de Marlene. Às vezes, abria-o para sentir o cheiro da história daquela mulher tão...tão sabe-se lá, encantadora, talvez...As histórias contadas ganhavam forma material dentro daquelas caixinhas. Oublier não conseguia se privar do prazer de acarinhar um pedaço vermelho de fita de cetim...ou um sachê de chá de frutas cítricas...ou de ouvir aquela música que representara um dia, para aquela bela dama cansada,toda a dor do mundo. O que o "infalível" não sabia é que, cada visita ao museu particular daquela mulher, representava uma "fuga" das memórias retidas. Marlene voltava a se encantar por novas fitas, e numa manhã chuvosa, testava, pela "primeira vez", uma receita de maçã do amor...ao som de lindas músicas. Ao menos dele, ela não se lembrava...até então.

Claudia Tonelli

sábado, 14 de abril de 2012

Entre 1972 e 1975, no Estado do Amazonas, dois mil indígenas da etnia waimiri-atroari sumiram sem vestígios




Entre 1972 e 1975, no Estado do Amazonas, dois mil indígenas da etnia waimiri-atroari sumiram sem vestígios


Desde o início de 2011, Schwade passou a divulgar uma série de artigos em seu blog  http://urubui.blogspot.com.br  sobre os episódios que envolveram a violenta ocupação das terras dos waimiri-atroari
O recrudescimento contra os waimiri-atroari nunca foi negado pelo regime militar

O indigenista e ex-missionário Egydio Schwade, 76, revela os episódios que envolveram a violenta ocupação das terras dos waimiri-atroari.

O indigenista e ex-missionário Egydio Schwade, 76, revela os episódios que envolveram a violenta ocupação das terras dos waimiri-atroari. (CLOVIS MIRANDA / ACRITICA)

Eles não estão na lista oficial de desaparecidos políticos, nem de vítimas de violação de direitos humanos durante o regime militar no Brasil, mas foram considerados empecilhos para o desenvolvimento e guerrilheiros e inimigos do regime militar. Por resistirem à construção de uma estrada (a BR-174, que liga Manaus a Boa Vista) que atravessaria seu território, sofreram um massacre.

Entre 1972 e 1975, no Estado do Amazonas, dois mil indígenas da etnia waimiri-atroari sumiram sem vestígios. Um número infinitamente superior aos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, no Pará. Esta população cuja história permanece obscura ainda povoa a memória dos sobreviventes waimiri-atroari (ou Kiña, como se autodenominam).

"O massacre aconteceu por etapas e envolveu diferentes órgãos do regime militar", diz o indigenista e ex-missionário Egydio Schwade, 76, um dos principais agentes da mobilização que tenta tornar público este episódio e provocar a inclusão dos waimiri-atroari nas investigações da Comissão Nacional da Verdade, criada em novembro de 2011 pela Presidência da República.

Desde o início de 2011, Schwade passou a divulgar uma série de artigos em seu  blog http://urubui.blogspot.com.br sobre os episódios que envolveram a violenta ocupação das terras dos waimiri-atroari.

Panfleto
O recrudescimento contra os waimiri-atroari nunca foi negado pelo regime militar. Registros sobre os métodos dos militares para dissuadir (ou pacificar, como foi batizada a estratégia de convencimento) os indígenas a aceitar a construção da estrada estão em vários documentos e podem ser encontrados em declarações dadas a jornais na época tanto por militares quanto por funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Panfleto denominado "Operação Atroaris" que circulava na época, chegou a qualificá-los de "guerrilheiros". Um trecho do panfleto, escrito em versos, dizia: "Estais cercado, teus momentos estão contados; vê na operação esboçada que o teu fim está próximo".

Alfabetização
Egydio Schwade teve acesso às informações sobre o desaparecimento dos waimiri-atroari à medida que se tornava mais próximo e ganhava a confiança dos indígenas no período em que viveu com sua família na aldeia Yawará, onde chegou em 1985 e iniciou o processo de alfabetização em Kiñayara, língua da etnia.

O indigenista, que reside no município de Presidente Figueiredo e sobrevive como apicultor, conta que, após dois anos vivendo entre os waimiri-atroari, foi expulso pela Funai. Ele acredita que isto ocorreu justamente porque os indígenas começaram a revelar os acontecimentos da época da construção da rodovia. Para ele, a Funai, tanto na época quanto atualmente, foi omissa e até mesmo contribuiu com a opressão e a violência contra os indígenas.

Silêncio
"Queremos que as populações indígenas não sejam esquecidas pela Comissão da Verdade. Os waimiri-atroari, assim como os Cinta Larga, em Roraima, os Parakanã, no Pará, e os Suruí, em Rondônia, foram perseguidos pelo regime militar, que tinha como estratégia ocupar suas terras. Os índios resistiram e foram mortos. Que seja neutralizado o silêncio que domina estes casos", alerta Egydio Schwade.

Ele diz que o que o incomoda é o silêncio da Funai em relação a este assunto, atualmente escondido por detrás das ações mitigadoras que foram implementadas nos anos 80, com a criação do Programa Waimiri-Atroari, uma parceria com a Eletronorte, como forma de compensar os impactos ambientais e sociais causados pela construção da Hidrelétrica de Balbina. A usina alagou grande parte do território dos waimiri-atroari.

Funai
O Coordenador do Programa Waimiri-Atroari, José Porfírio Carvalho, que é citado nos artigos de Egydio Schwade e acusado de participação, como indigenista, nas ações contra os waimiri-atroari, foi procurado por email (que consta no site do Programa Waimiri-Atroari) três dias antes do fechamento desta matéria, mas não retornou o contato. No telefone da sede do programa, 3632-1007, ninguém atendeu.

A assessoria de imprensa da Funai também foi procurada e enviou a seguinte resposta: "A Funai está acompanhando as discussões sobre o assunto e vai trabalhar pela defesa dos direitos dos povos indígenas também nesse caso".

O decreto (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12528.htm) que criou a Comissão Nacional da Verdade é de dezembro de 2011. A assessoria de imprensa da Casa Civil da PR disse ao jornal A CRÍTICA que "quando a comissão começar a investigar, serão analisados todos os casos de desaparecidos, independente da etnia".

Neste mês, a Câmara dos Deputados criou uma Comissão da Verdade paralela, como resposta à demora da Presidência da República em demorar em instalar a Comissão Nacional da Verdade.

Pacificação
O projeto de construção da BR-174 (Manaus-Boa Vista), que era defendido pelo governador do Amazonas, Danilo Areosa, começou em 1968. A obra passaria por dentro do território dos indígenas, que não foram consultados e se opuseram ao empreendimento. Paralelamente, foram iniciadas medidas de "pacificação" dos indígenas, envolvendo padres (o mais conhecido foi o P. Calleri, morto pelos índios) e indigenistas da Funai.

A estratégia envolvia tentativas de diálogos, mas foi a presença de soldados e funcionários da Funai e o uso de armas (metralhadoras, revólveres, dinamite e até gás letal) os principais meios de "convencimento" dos indígenas.

Estimativa de população de waimiri-atroari feita pelo P. Calleri era de 3 mil pessoas no final dos anos 60. Nos anos seguintes, este número baixou para mil pessoas, sem que um registro de morte fosse feito, segundo Schwade.

A partir de 1974 as estatísticas da Funai começaram a referir números entre 600 e mil pessoas e, em 1981, restavam apenas 354, conforme pesquisa feita por Egydio.

Pelo menos uma das várias aldeias desaparecidas foi bombardeada por gás letal. Um sobrevivente waimiri-atroari que foi aluno de Egydio se recordou "do barulho do avião passando por cima da aldeia e do pó que caia".

Nos anos 80, após a repercussão internacional das mobilizações contra os impactos causados pela Hidrelétrica de Balbina, o Banco Mundial condicionou o financiamento da obra, que alagou terras dos waimiri-atroari, à criação de um programa de mitigação da sua população.

O programa começou a ser implementado em 1988, com duração de 25 anos sob a gestão da Eletronorte. O prazo expira em 2013. Após o programa, a população de waimiri-atroari voltou a crescer.

O acesso aos waimiri-atroari é difícil. A reportagem tenta desde o ano passado ir ao local, mas a resposta recorrente da coordenação do Programa é que os indígenas "estão em festa ou caçando".

Desaparecido
O único amazonense integrante da lista oficial de desaparecidos durante a ditadura é o Thomaz Meirelles, nascido em Parintins em 1937. Militante de esquerda, a última notícia que se soube de Meirelles data de 1974.

A reportagem entrou em contato com a viúva de Meirelles, a jornalista Miriam Malina, que vive atualmente no Rio de Janeiro, mas ela não quis dar declarações sobre o assunto nem sobre a Comissão da Verdade. Miriam afirmou que "enquanto não souber a composição da Comissão" prefere não se manifestar.

Amigo e companheiro na época do Centro Popular de Cultural, Euclides Coelho de Souza, 76, defende a urgência em dar visibilidade ao desaparecimento de Meirelles, sobretudo entre os mais jovens. "Ele foi um importante líder do movimento estudantil nos anos 60. Foi para a luta e o mataram. Os estudantes do Amazonas precisam conhecer sua história. Pressionar o poder público. Este assunto não pode ficar em brancas nuvens", disse Souza, por telefone, do Paraná, onde mora.

Thomaz Meirelles morou em Manaus desde 1950, mas no final daquela década se mudou para o Rio de Janeiro, onde passou a se envolver com movimento estudantil. Fez parte da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES). Em 1963 ganhou uma bolsa para uma faculdade em Moscou, onde conheceu sua esposa. Quando retornou, seu envolvimento com o movimento se intensificou. A perseguição política ficou mais dura e Meirelles passou a viver na clandestinidade. Há informações de que foi torturado e então desapareceu. Seu corpo nunca foi encontrado.