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sábado, 18 de fevereiro de 2012

O CASO ELOÁ: QUANDO O TRÁGICO TRANSFORMA-SE EM DEGRADAÇÃO HUMANA


O multimidiático julgamento do bárbaro crime contra uma mulher, ainda que menina, a pobre Eloá, mais que um caso de passionalidade ou de torpeza do assassino, reflete imediatamente as formas de consciência alienada da sociedade contemporânea, em especial da especificidade dessa alienação numa socialidade como a brasileira, onde a persistência da "tradição" machista é reforçada pela ignorância do senso comum, pela baixa escolaridade das massas populares e pela manipulação permanente de uma mídia sem compromisso com a sociedade e com o país.

Uma tragédia cotidiana, em que dezenas de Eloás e Lindembergs são envolvidos no turbilhão de uma forma societal dimensionada pelo mesquinho e pela superficialidade da mercantilização e coisificação do ser humano. Uma sociedade mediada pela mercadoria e pela propriedade privada e que por seu ser-precisamente-assim, gera nas relações humanas a concepção de posse privada e coisificada do outro.

São tragédias milenares, é verdade, tão antigas como a propriedade privada, mas agora redimensionadas  pela concepção capitalista da mercadoria, que as  tornam mais perversas e profundamente desominizadoras. Por ser mercadoria, o trágico já não aparece com a forma do mundo grego arcaico, quando a tragédia constituia-se em um recurso de reflexão catárquica e intuitiva da miséria e dos conflitos  humanos, mas como circo midiático de mercado para venda dos programas de televisão que vivem da exploração de relações humanas degradadas.

Pior, esses programas comandados pelos performers da desgraça alheia, fazem da miséria humana o show dos horrores, construindo uma nova e reacionária forma catárquica que reforça o senso comum acrítico e conservador. Se o trágico do arcaísmo grego contrapunha a ética ao crime ou à violação das regras de coexistência em sociedade, mesmo quando a ação violadora da lei apresentava-se com fundo de inconformismo extremo, como em Medéia, onde Eurípedes recoloca o tema da ética violentada (retomando a temática da fúria de Odisseu/Ulisses contra a violação da virtude da lei  - Odisséia), agora essa noção da tragédia torna-se impossível, porque esvaziada dos conteúdos reflexivos e da ética.

Em tempos do que Lukács definiu como capitalismo manipulatório, não cabe mais a noção trágica do humano contraditório, composto pelo "bem e pelo mal" e mediado por uma ética comunitária. Em seu  lugar coloca-se o princípio irracionalizado do bem contra o mal , mesmo que seja realmente o mal, como no caso da pobre moça. Mas aqui, o mal aparece como pecado bíblico que deve ser punido fundamentalisticamente, com a expiação do pecado , o mal descontextualizado da própria sociabilidade que o determina.

Os performres  da miséria humana reforçam assim, a ideologia da expiação e da punição do pecado , não dando a menor chance para que se reflita sobre as "causas do mal". Combate-se o que é negativo com a negatividade da repressão, como expressam esses arautos do senso comum. Apontam os pobres como os agentes do mal, não a pobreza e a ignorância, filhas ctônicas da exploração e da alienação da sociabilidade capitalista.

A sociabilidade da mercadoria coisifica o humano, retira dele a noção de identidade do indivíduo que se objetiva no outro, como definia Marx, a única condição da objetivação da  individualidade do ser humano é a realização de si pelo outro, seja no âmbito da individualidade em si, seja no das relações sociais. A fragmentação da praxis humana, a coisificação e a transformação do outro em mercadoria, recoloca alienadamente o homem como centro atomizado de si e da sociedade. Transforma o outro em instrumento, em meio de manipulação obscura de seus desejos, reforça o individualismo e mercantiliza as relações afetivas.         

O caminho para uma outra noção de justiça é o mesmo da construção de uma nova sociabilidade que não tenha a mercadoria como centro, quer dizer um longo caminho a percorrer mas que não impede que desde já possamos ir construindo formas alternativas de relações sociais, como uma nova hegemonia , que apontem para a hominização das relaçoes sociais e das formas de reprodução da vida e que tenha como pressuposto a crítica radical da sociabilidade burguesa. 

Antonio Carlos Mazzeo





sábado, 11 de fevereiro de 2012

Quem é a pessoa mais importante de sua vida?

 
Maria Isabel Carapinha

Neste exato momento, acabei de desligar o telefone depois de uma longa conversa com uma amiga muito querida. Ao desligar, e sem nenhum julgamento, passei a refletir sobre o que falamos.

Se você, agora, se fizesse esta pergunta do título, qual seria a sua resposta?
Será que a sua resposta seria os seus pais, os seus filhos, o seu marido? Ou será que a coisa mais importante de tudo em sua vida seria o seu emprego, a sua bela casa, ou as suas viagens?

Você, e somente você, em seu íntimo guarda esta resposta, mas tenha absoluta certeza que se a resposta de imediato não for a seguinte: a pessoa mais importante da minha vida sou eu mesma... reflita comigo sobre a necessidade de tomar pulso de sua vida e ser feliz.

Ninguém nunca lhe fará tão feliz quanto você mesma, ninguém nunca irá lhe amar ou valorizar como você deve fazer consigo mesma.

Quando a depressão bate e a tristeza se manifesta é porque está sendo revelado em você o desejo de descobrir o que lhe impede de viver uma vida plena e significativa. Neste exato momento em que a vida está lhe dando esta oportunidade de refletir, não se entregue a remédios que por vezes lhe tiram a grande oportunidade de crescer e modificar sua maneira de ser e agir.

O fato de sentir a dor do abandono lhe dará uma compreensão mais profunda e plena entre causa e efeito, ou seja, o que foi que fiz para atrair esta determinada situação para minha vida?
Será que em inúmeras situações abri mão de minha vida em função dos outros?

Quando você realmente se conscientiza que a pessoa mais importante em sua vida é você mesma, a vida se abre, você sente seu verdadeiro poder pessoal, sua divindade e se realiza em sua plenitude.

Muitas vezes colocamos os outros à nossa frente, no intuito de agradar para ser aceita. A aceitação, no entanto, está ligada à admiração. Quando admiramos de fato alguém, aceitamos esta pessoa em nossas vidas com todas as suas qualidades e defeitos.

Há alguns meses, atendi uma moça que se dizia muito infeliz com a vida que levava hoje. Não se sentia realizada no casamento e nem no emprego que tinha. Por vezes, sentia-se muito solitária e não compreendida.

Iniciei, então, o seu atendimento fazendo um completo diagnóstico de suas frequências energéticas pela Mesa Radiônica. Sua frequência mental e emocional revelavam o que de fato ela sentia, que era uma enorme falta de motivação frente à vida e uma imensa conexão com pensamentos e emoções negativas.

Identifiquei ainda a presença de vários bloqueios energéticos ao longo do tempo, que se identificavam com épocas em que ela havia abandonado um emprego muito realizador para seguir o marido em seus ideais em outra cidade. Outro bloqueio se referia a abandonar sua carreira pelo desejo expresso de seu marido de ter filhos. Outro obstáculo apontava a época em que ela havia aberto mão de um concurso muito importante para se dedicar ao pai que havia adoecido.

Que enorme repetição de padrões? Todos os bloqueios se resumiam a abrir mão de sua vida pelos outros. O que hoje ela sentia era simplesmente o reflexo de não ter percebido que a pessoa mais importante em sua vida era ela mesma e que se ela não tomasse essa premissa como única e verdadeira, a sua realização pessoal nunca se concretizaria.

Eliminamos todas as energias bloqueadas em cada momento de sua vida e, com o pleno restabelecimento de seu equilíbrio pessoal, a consciência e poder sobre a sua vida afloraram.

Quando nos descobrimos verdadeiramente, descobrimos nossa missão de vida, passamos, assim, à condição de comandantes de nossas vidas. Você passará, então, a expressar de maneira mais intensa o que há de melhor dentro de você.

Nunca acredite que você se transformará de fora para dentro. Existe dentro de você um enorme potencial energético, pronto para agir a seu favor, basta você querer.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O clichê anti-BBB



Como no Big Brother, existe uma maneira muito simples de a gente parecer mais interessante do que de fato é diante de uma multidão. Basta criar uma conta no Facebook e manifestar desprezo por qualquer coisa que seja popular. Como o Big Brother ou o Orkut.
Em janeiro, quando as inserções do Pedro Bial passam a ser mais frequentes na tevê, o movimento de pudores eletrônicos ganha um tom de campanha política.

Depois do Facebook, ficou muito fácil manifestar nossos bons gostos e engajamentos pela internet. 
Depois que inventaram as correntes de Facebook (espécie de tevê a cores a substituir o pré-histórico jogo da velha que indicava uma hashtag), ficou muito fácil manifestar nossos bons gostos e engajamentos pela internet.

Basta compartilhar as fotos com as inscrições “Odeio BBB”, “Fora Pedro Bial”, “Meu sofá da sala não é privada”, “Morte ao Paredão”.

Pega muito bem.

Se houvesse um guia prático do internauta moderno (sim, porque existem os internautas da velha guarda, uns que se deixarem mandam até a íntegra da missa aos domingos), a ojeriza aos reality shows seria a regra número 1.

Mas não só.

Para parecer um cara muito legal na internet e na vida, é preciso também:

- Bater no Michel Teló. Sem dó. Como se ele fosse o Sarney. Todo mundo vai pensar que você morre de saudade dos tempos do sertanejão de raiz, ainda que o mais perto que você tenha chegado de um boi foi naquela visita ao Pet Zoo;

- Ter sempre em seu mural algum auto-retrato pintado da Frida Khalo (serve uma foto em preto e branco) e desenhos estilizados do Tarantino, do Almodóvar, do Che Guevara e daqueles quatro meninos de Liverpool atravessando a zebra de pedestres em Abbey Road. Não é preciso esclarecer a conexão entre eles;

- Fazer um minuto a minuto sobre a sua ansiedade pelo próximo show dos Strokes ou do Arcade Fire no Brasil. De preferência, sem pontos de exclamação nos posts, para não ser confundido (a) com fã de pagode;

- Vale a pena também iniciar, em sua página, uma contagem regressiva para a Feira Literária Internacional de Paraty. Pode começar em qualquer época do ano: “Faltam 291 dias para Flip”;

- De vez em quando, diga como anda sua vida acadêmica e comemore em letras garrafais quando chegar a formatura. Não se esqueça de dizer que A-M-A a profissão escolhida. No Facebook não existe gente frustada no campo profissional;

- Conte sempre coisas fofas vividas em ambiente familiar, ainda que te digam que o que se vive entre quatro paredes deva ficar entre quatro paredes;

-Vai a Paris, Roma, Viena ou Nova York? Avise todo mundo pedindo dicas de lugares para os amigos. Chegando lá, não espere a volta para postar impressões e fotos, ainda que você passe 90% do seu tempo livre na sala de internet do hotel;

- Não importa que o Parque Nacional do Xingu fique em Mato Grosso: seja sempre contra qualquer intervenção humana no Pará. Se não colar, lembre também que o País da corrupção não está pronto para receber eventos do porte de uma Copa, uma Olimpíada, um Cirque du Soleil;

- Lista de artistas brasileiros que DEVEM constar das suas preferências musicais: João Gilberto (aquele do “vai, minha tristeeeeeza…”), Chico Buarque (“estava à toa na vida, o meu amor me chamou”), Cartola (ver também: Mangueira. É um morro, além de escola de samba), Noel (o daquela caricatura com nariz grande, cigarro meio desprendido na boca…), Pixinguinha (o moço das bochechas). Engenheiros do Hawaii e Roupa Nova, que te levaram às lágrimas depois daquele fora no colegial, NEM PENSAR. Mantenha certa distância também de Raul Seixas (tiozão demais, coisa de hippie doido);

-Tome duas doses de Clarice Lispector todos os dias. Adicione, de vez em quando, aquele poema da Fidelidade do Vinícius de Moraes (“de tudo ao meu amor serei atento antes…”) e algum pensamento do dia escrito por Mário Quintana ou Caio Fernando Abreu (se não tiver nenhum livro deles em casa, jogue no Google alguma letra sobre despedidas cantada pelo Alexandre Pires. Se não citar a autoria, todo mundo vai achar o máximo). Se estiver de bom humor, use qualquer frase atribuída ao Luís Fernando Veríssimo. Em dias de mau humor, use Arnaldo Jabor (o cineasta e o comentarista são as mesmas pessoas, mas não parece);

- Faça print screen de erros gramaticais alheios e compartilhe, em tom de lamento, o que você considera um erro grosseiro. De quando em quando, solte um: “Maldita inclusão digital”. É tiro e queda;

- Quando algum autor de renome for dar aquela palestra marota no Sesc perto de casa, marque dois ou três amigos em seu mural e provoque alarde para todo mundo saber: “Vamos, né??????”. Não esqueça de postar o link relacionado;

- Curta a página de qualquer bar com mais de cinco anos de fundação no entorno da rua Augusta; dê preferência ao Ibotirama;

-Use e abuse de qualquer onda retrô. Está sempre em moda;

- Compartilhe diariamente sua indignação com a política nacional. Lembre todos os dias que o governo não presta e que Brasília seria muito melhor se, no lugar do Congresso, funcionasse um estacionamento. É de bom tom ignorar que os governos totalitários do século XX também transformaram seus Legislativos em estacionamento;

- Não conte, nem sob tortura, que você adora passar no Mcdonalds depois do rolé pelo Espaço Unibanco;

- Deixe sempre claro que você é habitué de lugares incríveis, como as praias de Trindade-Paraty ou o sofá do Outback;

- Compartilhe qualquer reportagem relacionada ao D.O.M, o mais premiado restaurante brasileiro lá fora, e expresse sua intimidade com o nome de Alex Atala.

Feito isso, você espantará qualquer fantasma da breguice e do lugar-comum que contamina este país que a gente gosta de chamar de atrasado.

Ninguém vai dar a mínima, mas o importante é ficar bem com a gente mesmo. Ou viver cada minuto como se fosse o último. E dormir com a consciência tranquila. Ou qualquer outro clichê que sirva.

Matheus Pichonelli

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Privataria Petista


Laerte Braga

O governo arrecadou R$ 24,5 bilhões de reais com a privatização de três dos principais aeroportos brasileiros. O de Cumbica, o de Guarulhos e Viracopos em Campinas. Todos na República Tucana de São Paulo, controlada pelo esquema FIESP/DASLU, na ordem divina da OPUS DEI.

A alegação é a necessidade de obras de infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014.

Em 2002, durante a campanha eleitoral, Lula falava da necessidade de um projeto Brasil. Ou seja, um projeto político que permitisse ao País encontrar os rumos necessários a sair do berço esplêndido em que se encontrava deitado. Candidato à época chegou a afirmar que só em três momentos da história do Brasil república houve um projeto efetivo e real nessa direção.

A era Vargas, o governo JK e a ditadura militar, segundo o petista – que ao citá-los não os julgou, evidente –, apresentaram propostas concretas para transformações no Brasil. O seu governo, foi mote de campanha, seria um novo projeto para o País, com dimensões capazes de transformá-lo em potência mundial.

O conceito de potência mundial é relativo. O Brasil de Lula inventou o “capitalismo a brasileira”, conceito de Ivan Pinheiro – secretário geral do PCB, o mais antigo partido existente aqui – e como potência regional pratica um sub-imperialismo em relação a seus vizinhos, nunca buscou de fato a integração latino-americana e a despeito do discurso de “independência”, submete-se aos interesses de banqueiros internacionais, grandes corporações e latifúndio.

As mudanças, ou os dados apresentados como positivos refletem apenas políticas assistencialistas – que, originalmente não teriam esse caráter – e hoje têm apenas o viés eleitoral. Uma aliança com Gilberto Kassab em São Paulo, por exemplo, o que é?

No duro mesmo somos um grande entreposto do capital internacional, subordinados a esse capital e nem rato que ruge o Brasil consegue ser no atual governo. Quase 50% das receitas orçamentárias do governo são para pagar dívidas.

Os serviços públicos voltam a se deteriorar com o abandono do servidor, as políticas de arrocho dos tucanos se manifestam na figura do ministro Guido Mantega e o que se percebe é que o mundo petista gira hoje em torno do ganhar ou não perder eleições, não importa como.

A máxima de Bias Fortes, ex-governador de Minas – “o feio em eleição é perder”.

O papel proeminente que o Brasil chegou a exercer no governo Lula através do Ministério das Relações Exteriores sumiu. A presença do “Brasil potência” dissolveu-se nos rumos dados à política externa pelo chanceler Anthony Patriot, uma espécie de míssil dos interesses norte-americanos de afastar o país do processo de integração latino-americana e sua interveniência em situações como a que se vê o Irã, por conta da desmedida boçalidade do capitalismo nazi/sionista de EUA e Israel.

Voltamos a ser coadjuvantes de um coral de amém.

Com os portos abertos e agora os aeroportos (portas de entrada de nossa casa), cada vez mais se configura a submissão ao modelo de globalização nos moldes falidos do neoliberalismo.

O governo Dilma mistura ingredientes do tucanato, mantém as políticas assistencialistas e marcha em passo de ganso para desaparecer na pequenez política da presidente.

O brutal episódio da tomada do bairro Pinheirinho, na cidade de São José dos Campos, São Paulo, um arranjo desafinado do governador paulista Geraldo Alckmin (amigo de Dilma) e empresários de seu estado, garantidos pela boçalidade de uma “instituição” cancerosa nas poucas células do que se imagina um estado democrático e de direito.

A absoluta omissão do governo federal, a despeito das vozes contrárias. Mas depois do fato consumado. Da barbárie acontecida.

E agora a privataria petista ao sabor dos interesses da organização mafiosa que comanda o futebol no mundo, a FIFA. É isso é apenas o discurso público, a privatização de aeroportos estava prevista desde o governo Lula.

O que Dilma pensa ganhar com essa virada até em relação ao governo Lula não sei. Imaginar que as omeletes que receitou aos brasileiros no programa de Ana Maria Braga sejam suficientes para aquietar a mídia de mercado é ingenuidade demais.

O que ocorre é o contrário. Ao perceber a fraqueza, a fragilidade política da presidente a mídia – braço do complexo de banqueiros, corporações e latifúndio – deita e rola. Cada semana um alvo/ministro num governo sem rumo ou mudando de rumo e mergulhando num abismo que as consequências, certamente, serão adversas.

A ira furibunda de setores do PT ao exigir respeito pelo partido se perde no desrespeito à história de lutas e a razão de ser do PT. Foi para o brejo, é um PSDB com alguns matizes diferentes do original.

A doença de “consultorias” tomou conta do partido, a burocracia (que não anda, que emperra e se torna pelega) mostra-se um veneno letal em comparação ao que se viu, por exemplo, nas eleições de 1989.

Por mais otimistas que sejam os discursos de Dilma em relação à crise que afeta países/colônias da Comunidade Europeia. Por mais que o cinismo e a arrogância de Barack Obama vá se manifestar neste ano por conta da disputa presidencial em seu país. Ou por mais grave que seja a crise nos EUA – reprimida pela Polícia com requintes de estado autoritário –, as nuvens que pairam sobre o Brasil, que resultam dos equívocos da presidente, da tucanização do PT, viva agora na privatização dos aeroportos e sabe-se o que vem pela frente, a soma dessas parcelas vai resultar num total difícil de digerir, vai exibir as contradições do chamado mundo institucional e a isso se adiciona o desmanche do Poder Judiciário e o descrédito do Poder Legislativo.

E não será, evidente, porque Miriam Leitão ou William Waack acham isso na pregação diária que juntam à alienação/alienante ao jornal das seis, das sete, de que hora for dos noticiários dirigidos à classe média (que não entende nada de bolsa de valores, mas escuta e vê atentamente o que a moça da vez fala), não será por essas razões que o governo vai se desmanchar e de repente o Brasil inteiro, numa espécie de acender de lâmpada, entenderá que não mudou nada de nada e que continuamos imersos em berço esplêndido a reboque de interesses que nada têm a ver com o tal projeto Brasil que Lula falava.

Estamos na era da Privataria Petista.

FACEBOOKISTÃO, UM LUGAR PARA CURTIR


Visitei terras e culturas diferentes. Percorri boa parte do Oriente Médio e da Ásia. Travei contato com diversos povos. Fui um dos primeiros ocidentais a percorrer a Rota da Seda, em busca de um tecido que, ao ser rasgado, se transformasse em elogio. Sou cartão platinum em quase todas as companhias. Por isso, posso dizer de cadeira: não há lugar no mundo como o Facebookistão.

Esse país, de paisagem branca e azul, congrega mais de 800 milhões de pessoas. Um em cada 13 habitantes do planeta vive lá. Dentro de suas fronteiras falam-se algo em torno de 70 idiomas. Não incluindo aí o novo léxico pictórico, tipo \o/ , :) , :( etc.

A população é essencialmente linda, bem-sucedida, de gosto refinado, preocupada com a justiça social, o meio ambiente e os animais. É um povo muito receptivo. Cada pessoa tem por volta de 130 amigos. A maioria só convive mesmo com uns 4 desses 130. Mesmo assim estão sempre abertos a novas solicitações, não sem antes olhar o álbum de fotos do pretendente, é claro.

O ambiente é democrático, apesar de ser uma monarquia absoluta. O monarca, de apenas 28 anos, pode não só fazer as leis, como também excluir qualquer pessoa que estiver, inclusive, andando na linha. Em breve, o rei, como muitos outros governantes, venderá a nação para o mercado financeiro através de um IPO.

Nesse estranho país, protesta-se contra reacionários, insensíveis, fofoqueiros, sertanejos, funkeiros, homofóbicos, racistas, corruptos, fúteis, ditadores, mal-educados. O efeito dessas vozes dentro do território é inócuo, uma vez que ninguém lá possui tais defeitos. É muito comum no Facebookistão as pessoas protestarem também contra a falta de privacidade de seus dados. Poucos têm paciência de ler atentamente as cláusulas que regem o uso das informações fornecidas. Estes preferem usar o tempo para relatar publicamente como anda sua digestão ou expor as fotos da operação de fimose.

A principal atividade é a postagem. Todo dia, a população publica mais de 250 milhões de fotos. A cada 20 minutos, 10 milhões de comentários são escritos, 2 milhões de perfis são atualizados e 1 milhão de links são compartilhados. Que trabalho terão os cientistas sociais do futuro.

A moeda de troca é o like. Trocam-se likes por mais likes. O que no fim das contas não faz a economia produzir valor. A não ser para o monarca, que, com esse intenso tráfego de gentilezas, vende com mais facilidade os espaços publicitários aos anunciantes.

Quando conto essas coisas, as pessoas pensam que estou inventando ou que fiquei louco, acham que é mais uma viagem de Marco Polo.

Enfim, se você se interessou em visitar, saiba que, ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, entrar para essa comunidade especial é simples. Basta apresentar seu nome, um e-mail e a data de nascimento. Esses dados nem precisam ser verdadeiros. Entrar é facílimo, difícil mesmo é sair.
Vitor Knijnik

Aquarius (HAIR) - Legendado [Português]

AC. Antoine e Colette

Os 80 anos do autor e seu cinema: Truffaut



Nascido em 6 de fevereiro de 1932, o diretor francês deixou um legado de 26 filmes em 25 anos de carreira
06/02/2012 

João Gabriel Villar Cruz  

Cena final de "Les quatre cents coups"
(Os Incompreendidos) - Fotos: Divulgação
Tendo captado o olhar perdido de um menino confuso que caminha pela praia após ter visto o mar pela primeira vez, François Truffaut conseguiu expressar não só sua própria angústia quando adolescente, mas também um sentimento universal de dúvida solitária sobre o destino que todos devem enfrentar em algum momento. Foi essa imagem triste e bela a escolhida para fechar a primeira obra prima de um cinéfilo que viajou para o outro lado das telas. Além disso, tal imagem habitou a mente de quem saía do cinema em 1959, ano em que o jovem crítico e cineasta ganhou o premio do festival de Cannes, pelo seu autorretrato “Les quatre cents coups” (Traduzindo ao pé da letra ‘’Os quatrocentos golpes”, uma expressão francesa equivalente a “Pintando o sete”), transformado no Brasil em “Os incompreendidos”, outro título que, apesar de ter perdido muito da essência, traduz a atmosfera do filme e seu autor. 
Truffaut iniciou efetivamente sua carreira como crítico apadrinhado por seu amigo e mentor André Bazin, aclamado crítico que serviria como um pai para o ex-delinquente. Foi Bazin que o ingressou na lendária revista cinematográfica “Cahiers du Cinéma”, onde trabalharia ao lado de seu então grande amigo Jean-Luc Godard. Truffaut causou polêmica já em sua primeira reportagem, onde criticou o intocável padrão de qualidade do cinema francês, propondo mudanças tanto nos temas quanto em suas abordagens. Porém, não tinha apenas desafetos como crítico. Amante do cinema desde criança, assumiu seu amor por mestres como Alfred Hitchcock (a quem entrevistou em Paris para a Cahiers), Jean Renoir e Roberto Rosselini. E foram essa paixão e oposições ao modelo da época que o levaram, junto com Godard, a fundar um novo modo de fazer cinema, a “Nouvelle Vague” (“Nova onda”, em português). O novo movimento foi um sopro de renovação para o cinema francês e mundial. Influenciando, por exemplo, o movimento do Cinema Novo no Brasil. 
Após a inauguração do movimento -- que, segundo o diretor, em “Os incompreendidos" as delinqüências juvenis representavam a rebeldia e o rejuvenescimento necessário para o cinema --, Godard e Truffaut tiveram desavenças quanto aos rumos que deveriam tomar a Nouvelle Vague e romperam laços para nunca mais reatar. Mesmo após tentativas de aproximação por parte de Godard nos anos 80. 
Um ano depois à explosão de "Os Incompreendidos", Truffaut presenteou as plateias com uma emocionante e divertida sátira ao gênero de “Film Noir” norte-americano em “Tirez sur Le pianiste” (“Atire no pianista”). Em seguida, 1962, apresentou um marco na revolução sexual dos anos 60 com o belo e polêmico triângulo amoroso em “Jules et Jim”, que no Brasil recebeu o nome apelativo de "Uma Mulher para Dois". 
François Truffaut, com Jean-Luc
Godard  e Roman Polanski
Em “La nuit americaine” (A noite americana), de 1973, o diretor fez uma apaixonada homenagem ao processo cinematográfico. Com a película, Truffaut concorreu ao Oscar de diretor e trouxe à França a estatueta de melhor filme estrangeiro.
Conseguiu, em apenas 25 anos de carreira, dirigir 26 filmes, antes da sua morte prematura com um tumor no cérebro em 1984, tendo sido seu último grande filme “Le dernier métro” (“O último metrô), contando com os astros Catherine Deneuve e Gerard de Depardieu. O filme tratava do processo de criação de um espetáculo, servindo como a segunda parte de uma trilogia que se iniciou com “A noite americana” e nunca foi terminada. 
Cinema de Autores
Sua mais importante teoria como crítico foi a “Politique des auteurs” (A política autoral), que colocava o diretor de um filme como o principal responsável por sua obra, tal como um pintor, poeta, escritor, sendo assim os atores e equipe seu pincel e tela. Essa foi a principal inovação trazida pela “Nouvelle Vague”, e a sua marca. 
Na visão dos críticos, seus filmes não possuíam grandes sequências, brilhantes diálogos, ou histórias de tirar o fôlego, mas cativavam pela singeleza. Como em "Jules et Jim" onde os três vértices de um triângulo amoroso andam de bicicleta pelo campo, ao som de uma melodia orquestrada (cena que inspirou a icônica sequência de “Butch Cassidy and the Sundance Kid”, na qual Paul Newman e Katherine Ross andam de bicicleta ao som de “Raindrops keep falling on my head”). 
François Truffaut e Jean-Luc Godard antes da briga
Foi neste filme que Truffaut se apaixonou por Jeanne Moreau, então casada com o estilista Pierre Cardin, e conseguiu fazer com que todo o seu público também se apaixonasse (e como não se apaixonar?). O diretor eternizou Morreau na tela fazendo-a correr travestida de homem por uma ponte. Nas cenas de "Jules et Jim", o público sente as personagens por seus olhares, seus sorrisos, seus tons. Com cada movimento, mergulhamos mais na vida desses estranhos, em obras íntimas e sentimentais. O "sentimentalismo" foi um dos principais motivos da briga com Godard que não concordava com o caráter intimista da obra de Truffaut. Tal tradução da poesia para as telas, por mais que cada vez mais rara, pôde ser posteriormente atingida com maestria por outros mestres como Fellini (“8 ½”, “A doce vida”), David Lynch (“Veludo azul”, “O homem elefante”) e Michelangelo Antonioni (“Blow up”, “O deserto vermelho”). 
Não é à toa que Truffaut serviu como uma das principais inspirações para o renascimento de Hollywood, no qual um jovem grupo de diretores tentou recriar a arte do cinema europeu na América. Cineastas aclamados como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian de Palma e Steven Spielberg, este último seu grande fã e amigo, sendo que o diretor francês chegou a atuar em seu “Close encounters of the third kind” (“Contatos imediatos de terceiro grau”). Sua influência também chega ao cinema Pop moderno, exemplificado por Quentin Tarantino, que admitiu ter se baseado em “La mariée était en noir” (“A noiva estava de preto”) para criar “Kill Bill”, e ter tirado um pouco da atmosfera nonsense e narrativa não linear de “Atire no pianista” para conceber “Reservoir dogs” (“Cães de aluguel”). Pode-se até perceber traços de seu estilo ousado, simplório e poético no hoje clássico “The graduate” (“A primeira noite de um homem”), em muitos aspectos semelhante a “Jules e Jim”, e Dianne Keaton nos filmes de Woody Allen assemelha-se à doce e inconstante imagem passada por Jeanne Moreau nesse mesmo filme. 
É por tudo isso que Truffaut, antes de ser influência e arte, é essencial para que ama o cinema, com filmes capazes de entreter, divertir, encantar, tirar a paz, devolvê-la e, mais do que tudo, deixar em nossas bocas um gosto amargo de “Já passou?!”. 
Truffaut foi Antoine que era Jean-Pierre 
Mais do que um autorretrato de sua adolescência, "Os incompreendidos" previu nas telas a rebeldia de uma década que marcou a sociedade francesa e ocidental. Seu primeiro longa-metragem ainda teria quatro continuações. O moleque Antoine Doinel, de "Os Incompreendidos" cresceu e passou pelos desencantos e felicidade da juventude até chegar à maturidade de um homem solitário que separou e casou, servindo como uma espécie de alter-ego de Truffaut. 
Truffaut dirigindo Jean-Pierre Léaud 
Truffaut foi Antoine. E Antoine sempre foi Jean-Pierre Léaud. Na década de 60 Léaud tornou-se o queridinho dos diretores franceses, mas ficou marcado como o alter-ego de Truffaut. Engajado e contestador, ator esteve presente nas revoltas de maio em 1968 em Paris e chegou a vir ao Brasil para discursar para estudantes no mesmo ano. 
Contando sempre com Léaud no papel principal, expressou sentimentos íntimos filmando o ator em “Antoine et Colette” (1962),”Beijos proibidos” (1968), “Domicílio conjugal” (1970) e “Amor em fuga" (1979).

ANIQUIRONA, POEMA 26


Há uma mulher em minha casa
Eu não sei se olha para o canto, para o mundo
De qual lugar ela se gira.
É como o vento, árvore noite, uma oração para os casos difíceis.

Eu não sei, e ainda assim eu sei que é um ensejo.
Como se o sonho não fosse o suficiente
Para entender completamente.
Minha mente se volta para as alturas, como candidato a não sei qual cordilheira
Eu não sei de qual precipício.
Há uma mulher que se casou comigo
Quando eu descobri apenas
Que nasci para ser um homem e dormir.

Uma mulher de cera e maçãs gigantes Guáimaros.
Como um suave suado feminino num rio resmungado de ventos moderados, de nostalgia plausível ou fantástico mundo.
Uma mulher em que nem eu não sei para quais locais cessa a fazer curvas.
Uma mulher em meus sonhos

A mulher a quem as árvores, os pássaros e até mesmo campos do quotidiano falam com a vocação maravilhosa COMUNICAM-lhe segredos inescrutáveis pedras e rios

Há uma mulher que olha nos meus mundos subterrâneos e os seus seios como decantado balsâmico são como sombras que vivo, e sabe todos os segredos das minhas noites oprimidas na lua macia da minha angústia.

De: Winston Morales Chavarro
Tradução: Diva Franco



De: Winston Morales Chavarro
Tradução: Diva Franco

Tempo Sem Tempo - Jose Wisnik.wmv

Privatização dos aeroportos: vergonha nacional!


A estatística dos 3 aeroportos a serem privatizados (Guarulhos, Brasília e Campinas) reflete bem a realidade do que vai ser subtraído do setor público. Eles são responsáveis por 30% do total dos passageiros, 57% do total das cargas e 19% das aeronaves em todo o País.
Paulo Kliass
O próximo fim de semana certamente será palco de muitas reuniões a portas fechadas, encontros discretos e momentos de tensão. Não me refiro aqui aos efeitos da violenta desocupação de Pinheirinho, nem às repercussões da desastrada operação na Cracolândia e muito menos à retomada dos trabalhos no Congresso Nacional. Na verdade, trata-se da tentativa de ressuscitar o nada saudoso processo de privatização de bens e serviços públicos aqui em nosso País. Eis mais uma incongruência que o governo traz à agenda, uma medida tão polêmica quanto anacrônica nos mundos de hoje, em que alguns dos principais dogmas do neoliberalismo estão sendo colocados em xeque, até mesmo por seus ideólogos nos países centrais. Mas aqui em solo tupiniquim, as coisas parecem funcionar ao revés. A bola da vez é a Infraero, empresa pública que se encarrega da gestão e operação dos aeroportos em todo o território nacional.

O “lobby” pela privatização dos aeroportos
O pesado “lobby” que atua a favor da privatização dos serviços aeroportuários é antigo e conhecido. Desde os tempos de ouro da hegemonia da agenda do Consenso de Washington que os representantes do setor privado vêem com olhos gordos essa verdadeira mina de fazer dinheiro fácil, às custas do monopólio dos bens públicos. Nos tempos em que o discurso contra a presença do Estado na atividade econômica era considerado irreparável esse foi um setor que conseguiu resistir e não ser repassado à exploração pelo capital. Uma das razões para tal fato refere-se, sem sombra de dúvida, à natureza estratégica dos aeroportos e de sua tangência evidente com as questões de segurança e soberania nacionais.

E, ao que tudo indica, setores expressivos das Forças Armadas nunca foram muito simpáticos à idéia de transferir tal atividade ao setor privado. Mas os interesses empresariais não haviam desistido de tal projeto e estavam apenas à espreita para saltar em cena no momento adequado. Quis a ironia da historia, que tal oportunidade fosse oferecida, assim de bandeja, justamente por um governo comandado pelo Partido dos Trabalhadores.

O caminho foi sendo pavimentado aos poucos, sem muita pressa. Todos nos lembramos da forma como os meios de comunicação têm tratado a questão do chamado “apagão aéreo” ao longo dos últimos anos. É preciso reconhecer que o quadro dos aeroportos tem ficado cada vez mais crítico. Mas isso ocorreu por um verdadeiro sucateamento a que foi submetido o setor. Ou seja, a situação a que chegaram os aeroportos brasileiros contou com a conivência do próprio Estado. A política de arrocho orçamentário e de cortes nas rubricas de investimento em infra-estrutura contribuiu para aprofundar as dificuldades de oferta de condições adequadas para a operação aeroportuária em nosso País. No entanto, a versão oferecida para a maioria da população, como sempre, acentua apenas a suposta incapacidade do setor público em gerir o setor com padrões de eficiência. A solução seria a bem conhecida panacéia para todos os males: transferir para o setor privado. Aliás, estamos cansados de assistir às demonstrações de tal eficácia do capital na crise atual que assola o planeta. Na hora do aperto, sempre grita pela ajuda do Estado!

Por outro lado, a realização da Copa do Mundo em 2014 e os compromissos assumidos pelo Brasil perante a FIFA e a comunidade internacional passaram a atuar como elemento de reforço da versão catastrofista. E mais uma vez o discurso em favor da eficiência do setor privado prevalece. O tempo é curto, as necessidades são urgentes, não existe alternativa viável que não seja a privatização - os argumentos se repetem. Assim, em função de um fluxo aéreo extraordinário e concentrado durante tão somente um mês da competição, decide-se por transferir toda a operação dos aeroportos, por décadas, para o capital privado.

O leilão marcado para dia 6/2
Agora a cena toda está montada para a segunda-feira, dia 6 de fevereiro, quando deverão ser realizados os leilões para a privatização de alguns dos principais aeroportos do Brasil. Apesar de todos os protestos e manifestações contrárias ao processo por parte de entidades do movimento sindical, de especialistas na matéria, de órgãos da sociedade civil organizada e até mesmo do Tribunal de Contas da União (TCU), o governo permaneceu irredutível na manutenção da data e das condições previamente estabelecidas desde meados do ano passado.

Serão leiloadas as concessões dos aeroportos de Guarulhos (SP), Brasília (DF) e Campinas (SP). Esses três são considerados dentre os mais rentáveis e os menos problemáticos de todo o conjunto da Infraero. As condições são as melhores possíveis para os interessados. Tanto que o preço inicial solicitado no leilão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN) foi largamente superado durante o leilão realizado em agosto de 2011. Naquela espécie de experiência piloto dessa nova onda de privatização, o valor pago pelo consórcio vencedor foi quase 230% superior ao preço inicial fixado pelo governo.

Guarulhos tem um lance mínimo fixado em R$ 3,4 bilhões, com concessão de 20 anos. Viracopos tem um valor inicial estipulado em R$ 1,5 bilhão e prazo de uso de 30 anos. Brasília teve o lance mínimo arbitrado em R$ 582 milhões, com prazo de uso de 30 anos. As regras prevêem que seja formada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) com o objetivo de gerir o excelente negócio. Na verdade, trata-se de um eufemismo jurídico para a famosa Parceria Público Privada (PPP), onde o capital privado fica com 51% dos votos e a Infraero com 49%. Como há necessidade de realizar investimentos para ampliação e modernização, com certeza a SPE receberá empréstimos do BNDES e de outras fontes federais com todas as facilidades e juros subsidiados. E o que mais impressiona é que o edital admite até mesmo a possibilidade de participação de empresas estrangeiras na gestão dos aeroportos. Uma verdadeira irresponsabilidade, dada a natureza estratégica desse tipo de atividade e os riscos envolvidos com a questão de segurança nacional.

O Estado tem recursos para investir
O principal argumento utilizado pelo governo para lançar mão da privatização é a tão propalada falta de verbas para investimento. Porém, a verdade dos fatos desmente essa versão enganosa. Recursos sobram no Orçamento! O problema é a prioridade definida pelas autoridades para sua utilização. Encerradas as contas de 2011, por exemplo, apurou-se que o Estado brasileiro forçou a geração de um superávit primário no valor de R$ 130 bilhões ao longo do ano. Uma loucura! Mais de 3% do PIB destinados exclusivamente para o pagamento de juros da dívida pública. Um número que se revela 30% mais elevado do que o superávit de 2011. E agora basta uma simples comparação. A operação de privatização desses 3 aeroportos vai render R$ 240 milhões por ano aos cofres da União. Ou seja, se houvesse destinado apenas minguados 0,2% do superávit a cada ano para esse importante compromisso, não precisaria transferir a concessão dos aeroportos ao capital privado. Mas a vida é feita de escolhas. E elas revelam a essência de nossas verdadeiras vontades.

A Infraero é responsável pela gestão de 66 aeroportos em todo o território nacional, Eles representam 97% do movimento do transporte aéreo regular, o que corresponde a 2,6 milhões de pouso e decolagens, transportando mais de 155 milhões de passageiros por ano. Como esse serviço não é o mercado da batatinha (“não gostei do serviço, vou aqui no aeroporto da esquina”...), a SPE tem assegurada a renda das tarifas por passageiro embarcado e aeronave na pista. Um negócio com perspectivas crescentes de ganho e rentabilidade, inclusive porque em 2011, pela primeira vez, a população brasileira passou a utilizar mais o avião do que o ônibus para o transporte interestadual.

Apesar de todas estas evidências, a opção foi de repassar à exploração privada os aeroportos mais promissores, sem nenhuma exigência de contrapartida, como a responsabilização do consórcio ganhador por aeroportos de menor fluxo, mas de grande importância no trânsito regional. É o caso das unidades da Amazônia, por exemplo. A estatística dos 3 aeroportos a serem privatizados reflete bem a realidade do que vai ser subtraído do setor público. Eles são responsáveis por 30% do total dos passageiros, 57% do total das cargas e 19% das aeronaves em todo o País. Assim, fica claro que a Infraero deverá perder parcela significativa de sua fonte de receitas, pois boa parte dos demais aeroportos apresenta baixo faturamento, que tem como principal fonte as taxas aeroportuárias cobradas das empresas e dos passageiros.

Assim, a pergunta que todos nos fazemos é simples e direta: por que a Presidenta Dilma decidiu, então, pela privatização? Como os argumentos relativos à escassez de recursos não resistem ao exame atento dos números do orçamento, a única explicação plausível é de que ela teria sido convencida de que a gestão aeroportuária não seria mesmo uma atividade típica de Estado. E aí o quadro ficaria bem mais complicado, abrindo margem para especulação a respeito da existência de lista contendo outros setores que poderiam vir a sofrer o mesmo tratamento.

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Antes que você se vá


Se sua partida é mesmo inevitável, se seu sonho é mesmo indispensável, se sua vida é mesmo impenetrável, vá logo de uma vez. 



Não permita que eu me apegue e faça planos, não me deixe crer no que não há verdade. 

Vá antes de borrar minha maquiagem, ferir minha coragem, antes que eu jogue meus instintos de sobrevivência definitivamente pela janela do prédio como se não me importassem mais sentimentos próprios. 

Não provoque meus medos, não confunda meu discernimento e não destrua meu equilíbrio. Apenas vá. Leve tudo o que é seu para que a lembrança não perfure meu sorriso cheio de lágrimas. 

Não me deixe criar um relacionamento individual onde eu sou todos os personagens e nenhum enquanto você é a plateia, única, que faz questão de não aplaudir minhas fragilidades teatrais. 

Você que preenche minhas lacunas de medo e cinco minutos de vida, deve ter um longo caminho de volta pro seu ser, enquanto eu sobrevivo de te esquecer daqui a pouco. 

Se minhas palavras embaralhadas confundem sua mente, nem peço lucidez. Já sei o quanto você gosta de estar entorpecido pra esquecer seus problemas ao invés de resolvê-los. 

Mas não ignore o que eu sou por não ter forças em me decifrar, não fuja antes de saber o que eu posso fazer pra te dar uma vida. Seu medo é de ser feliz? 

Então dividimos esse pavor doentio da alegria, podemos partilhar o pânico de sorrir até que a tristeza não faça mais sentido a dois.

Se sua partida é mesmo inevitável, se seu sonho é mesmo indispensável, se sua vida é mesmo impenetrável, ao menos arrisque me carregar junto de você.

Conflito na USP vira pauta em reunião de socialites de SP

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pinheirinho - A história de Naji Nahas e Dona Maria

Jornal Nacional distorce contra Cuba

Por Rogério Tomaz Jr.

Em agosto de 2011 as Organizações Globo lançaram, com grande estardalhaço, um documento intitulado "Princípios Editoriais", contendo as "normas e condutas que os veículos do grupo devem seguir para que seja cumprido o compromisso de oferecer jornalismo de qualidade", conforme noticiou o G1, portal do grupo.

Quem conhece minimamente o histórico dos meios de comunicação da família Marinho – no conjunto da população brasileira, é um contingente ínfimo de pessoas – sabe que os tais "princípios" não passam de alegoria, balela, conversa pra boi dormir, (mais uma) tentativa de iludir ou enganar incautos sobre a verdeira natureza do grupo Globo: uma instituição política disfarçada de empresa de informação e entretenimento.



Indo ao que interessa, na edição do Jornal Nacional – principal produto jornalístico da Globo, que é assistido todas as noites por dezenas de milhões de pessoas em todo o Brasil – de terça-feira (31/1), foi exibida uma reportagem sobre a visita da presidenta Dilma a Cuba.

A abordagem da emissora, que considera Cuba uma ditadura onde a liberdade é sufocada e o povo vive oprimido, não espanta e nem sequer incomoda muito, embora a parcialidade se transforme muitas vezes em desonestidade.

“O diabo está nos detalhes”, diz um célebre ditado inglês.

No encerramento da matéria, o apresentador William Bonner leu nota que seria uma manifestação da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara Federal. Para isso o JN recorreu ao 2º vice-presidente do órgão.

“Sobre as declarações de Dilma, o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Arnaldo Jordí, do PPS do Pará, lamentou que o governo brasileiro tenha deixado a garantia dos direitos individuais fora da pauta de discussões em Cuba. O deputado disse ainda que a comunidade internacional não aceita mais a privação de direitos como a liberdade de expressão e de organização política”. (William Bonner, JN, 31/01/2012).

Curioso a emissora ter recorrido à terceira pessoa na hierarquia da CDH – a presidenta é a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) e o 1º vice-presidente é o deputado Domingos Dutra (PT-MA) – apenas para garantir a manifestação de um deputado que faz oposição ao governo federal, embora apresentado como porta-voz de uma instituição especializada nas questões de direitos humanos.

Questionei a deputada Manuela D’Ávila pelo Twitter e ela confirmou que não foi procurada pela reportagem, como eu suspeitara. E falei por telefone com o deputado Dutra, que também não foi contatado pela Globo.

O fato grave, gravíssimo, é que a emissora, ao ignorar a hierarquia institucional da Comissão de Direitos Humanos, apenas para emprestar à sua reportagem um ar de isenção e legitimidade que o órgão reconhecidamente possui, desrespeitou o órgão e, assim, assinou o atestado de partidarização da pauta, o que fere os seus princípios editoriais (leia abaixo).

Pior ainda, pregou uma peça em toda a audiência do telejornal, que saiu com a impressão de ter ouvido uma declaração da Comissão de Direitos Humanos criticando o governo.

Essa é a ética da Rede Globo. Esse é o respeito pelos princípios editoriais que os herdeiros de Roberto Marinho assinaram, em nome dos seus filhos e netos.

Da Manuela D’ávila e de Domingos Dutra, a Globo jamais arrancaria uma crítica à postura do governo de não abraçar a pauta da oposição, que só fala de direitos humanos em países inimigos dos EUA: Cuba, Irã, Venezuela, entre outros.

Jamais você vai ouvir alguém do PSDB ou do DEM (ou algum veículo da Globo) falar – talvez algum político do PPS fale – sobre as violações de direitos humanos no Iraque, no Afeganistão, na Arábia Saudita ou mesmo nos EUA, que tem extensa folha corrida de desrespeito aos direitos básicos da sua própria população.

Daí a forjar uma manifestação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara é uma prática típica dos assassinos que dizem, com as mãos ensanguentadas diante da vítima: “a culpa é do punhal”.

Seria muito importante, a bem da verdade, que a Comissão se pronunciasse a respeito dessa fraude político-jornalística.

Lamentável. Mas não surpreendente.

Mais uma vez, a Rede Globo mostra – ainda que sutilmente – a sua verdadeira natureza: uma organização política.

Leia alguns trechos dos Princípios Editoriais da Globo que rejeitam a partidarização do trabalho noticioso http://g1.globo.com/principios-editoriais-das-organizacoes-globo.html

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Um jornal de um partido político, por exemplo, não deixa de ser um jornal, mas não pratica jornalismo, não como aqui definido: noticia os fatos, analisa-os, opina, mas sempre por um prisma, sempre com um viés, o viés do partido. E sempre com um propósito: o de conquistar seguidores. Faz propaganda. Algo bem diverso de um jornal generalista de informação: este noticia os fatos, analisa-os, opina, mas com a intenção consciente de não ter um viés, de tentar traduzir a realidade, no limite das possibilidades, livre de prismas. Produz conhecimento. As Organizações Globo terão sempre e apenas veículos cujo propósito seja conhecer, produzir conhecimento, informar.

(…)

h) É imperativo que não haja filtros na composição das redações.

i) As Organizações Globo são apartidárias, e os seus veículos devem se esforçar para assim ser percebidos;

As Organizações Globo serão sempre independentes, apartidárias, laicas e praticarão um jornalismo que busque a isenção, a correção e a agilidade (…).”

MPB4 - Por quem Merece Amor

Que seja o nosso hino de amor por toda a humanidade... nosso alicerce para nossa luta de cidadão