O ESPÍRITO DO IGUALITARISMO PRESENTE NO CRISTIANISMO ORIGINAL, DESEJO A
TODOS UM FELIZ NATAL!
por Antonio Carlos Mazzeo, quinta, 23
de Dezembro de 2010 às 15:22
Gostemos ou não, a festividade do
Natal traz em seu núcleo o aspecto positivo da redenção humana. Na mitologia
cristã, Jeová quando manda seu filho à terra, o faz com o sentido magnânimo do
perdão. Até então, na visão ideo-religiosa hebráica, os homens iam aos templos
imolar cordeiros para livrarem-se de seus pecados. O sentido cristão recompõe a
lógica Mosaica. Agora, é o próprio deus que imola seu filho para a redenção da
humanidade! Esse é um grande passo para a construção de uma identidade
igualitária de caráter universal, ainda que mística. O revisionismo cristão do
judaísmo coloca como filho de deus todo aquele que aceita sua palavra, quer
dizer, a nova cosmologia ideo-religiosa que se desprende do mundo romano em
decadência. Agora, todos são eleitos de deus, não há mais um "povo
ungido". Cristo aparece como o cordeiro de deus que livra os pecados do
mundo. Como afirma o apostolo Paulo, ou melhor, Shaul de tarso - o judeu
revisionista e helenizado, o cidadão romano que difunde a nova religião no
Ocidente - , "já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem,
nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus" (Bíblia, Gálatas,II,
28).
Paulo e mais tarde os filósofos
cristãos Clemente de Alexandria e seu discípulo Orígenes lançam as bases de uma
concepção igualitária que mesmo sendo mística abre as possibilidades de se
pensar o outro como portador dos mesmos direitos e deveres. Podemos dizer, no
entanto, que essa foi a saída possível para os oprimidos, após a derrota das
revoluções dos escravos, principalmente da emblemática rebelião liderada por
Spartacus, em 73 a.C. A igualdade já não seria desse mundo, mas sim encontrada
no reino deus - como afirma Shaul/Paulo de Tarso:" Nós, porém, somos
cidadãos dos céus [...]” – idem,
Filipenses, III, 20. De qualquer modo estava lançada uma noção que sem
dúvida, pode ser considerada revolucionária. Não esqueçamos que no mito, Cristo
nasce numa manjedoura (lugar onde comem os animais) de um estábulo e que os
apóstolos viviam coletivamente dividindo o pouco que possuiam!
O legado igualitário, mais tarde será
reprocessado ideologicamente pela
burguesia revolucionária e depois, superado pelo projeto comunista. Para os
burgueses a igualdade continua mística mas, agora, não está no céu e sim no
Estado, uma estrutura burocrático-ideológica que administra as relações sociais
do capitalismo através do mito da democracia burguesa e da igualdade formal
garantida por um "Estado democrático de direito" que defende o
direito hegemônico da burguesia.
Para os comunistas, a igualdade
radicalizada aprofunda a democracia a limites nunca vistos, possibilitando a
construção de uma sociedade mais que igualitária, a sociedade dos produtores
associados, a sociedade comunista, sem opressores e oprimidos, sem exército,
sem o Estado e de plena liberdade.
Muitos cristãos (assim como judeus e
islâmicos, etc) adotam o projeto revolucionário do comunismo, não como uma
perspectiva mísitca de realização no "outro mundo", mas como uma
possibilidade racional de civilidade humana. Esses religiosos devem ser
respeitados e tratados como membros do projeto de emancipação humana que nós
comunistas defendemos.
E se tornaram revolucionários porque
foram radicais, no sentido marxiano de se ir à raiz das coisas. Na raiz do
cristianismo, todos somos iguais e todos merecemos um mundo sem exploração do
homem pelo homem. No cristianismo original não havia a pompa do poder, mas
culto da solidariedade e o da divisão do pão e do vinho!
No espírito do igualitarismo profundo
dos primeiros cristãos, desejo a todos um Feliz Natal!
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