Pensar dói?
Por: Por Thomaz Wood Jr *
Em texto
publicado no New York Times, Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia,
argumenta que vivemos em uma sociedade na qual ter informações tornou-se mais
importante do que pensar: uma era pós-ideias.
No texto
atual, Gabler troca o foco do entretenimento para a informação. Seu ponto de
partida é uma constatação desconcertante: vivemos em uma sociedade vazia de
grandes ideias, leia-se, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa
maneira de ver o mundo. De fato, é paradoxal verificar que nossa era, com seus
gigantescos aparatos de pesquisa e desenvolvimento, o acesso facilitado a
informações, os recursos maciços investidos em inovação e centenas de
publicações científicas, não seja capaz de gerar ideias revolucionárias, como
aquelas desenvolvidas em outros tempos por Einstein, Freud e Marx.
Não somos
menos inteligentes do que nossos ancestrais. A razão para a esqualidez de
nossas ideias, segundo o autor, é que vivemos em um mundo no qual ideias que
não podem ser rapidamente transformadas em negócios e lucros são relegadas às
margens. Tal condição é acompanhada pelo declínio dos ideais iluministas – o
primado da razão, da ciência e da lógica – e a ascensão da superstição, da fé e
da ortodoxia. Nossos avanços tecnológicos são notáveis, porém estamos
retrocedendo, trocando modos avançados de pensamento por modos primitivos.
Gabler
critica o afastamento das universidades do mundo real, operando como grandes
burocracias e valorizando o trabalho hiperespecializado em detrimento da
ousadia. Critica também o culto da mídia por pseudoespecialistas, que defendem
ideias pretensamente impactantes, porém inócuas.
No entanto,
o autor aponta que a principal causa da debilidade das nossas ideias é o
excesso de informações. Antes, nós coletávamos informações para construir
conhecimento. Procurávamos compreender o mundo. Hoje, graças à internet, temos
acesso facilitado a qualquer informação, de qualquer fonte, em qualquer parte
do planeta. Colocamos a informação acima do conhecimento. Temos acesso a tantas
informações que não temos tempo para processá-las.
Assim,
somos induzidos a fazer delas um uso meramente instrumental: nós as usamos para
nos manter à tona, para preencher nossas reuniões profissionais e nossas
relações pessoais. Estamos substituindo as antigas conversas, com seu encadeamento
de ideias e sua construção de sentidos, por simples trocas de informações.
Saber, ou possuir informação, tornou-se mais importante do que conhecer; mais
importante porque tem mais valor, porque nos mantêm à tona, conectados em
nossas infinitas redes de pseudorrelações.
As novas
gerações estão adotando maciçamente as mídias sociais, fazendo delas sua forma
primária de comunicação. Para Glaber, tais mídias fomentam hábitos mentais que
são opostos àqueles necessários para gerar ideias. Elas substituem raciocínios
lógicos e argumentos por fragmentos de comunicação e opiniões
descompromissadas.
O mesmo
fenômeno atinge as gerações mais velhas. Nas empresas, muitos executivos passam
parte considerável de seu tempo captando fragmentos de notícias sobre mercados,
concorrentes e clientes. Seu comportamento é o mesmo no mundo virtual e no
mundo real: eles navegam pela internet como navegam por reuniões de negócios.
Vivem a colher informações e distribuí-las, sem vontade ou tempo para
analisá-las. Tornam-se máquinas de captação e reprodução. À noite, em casa,
repetem o comportamento nas mídias sociais. Seguem a vida dos amigos e dos
amigos dos amigos; comunicam-se por uma orgia de imagens e frases curtas,
signos cheios de significado e vazios de sentido.
O futuro
aponta para a disponibilidade cada vez maior de informações. A consequência
para a sociedade, segundo Gabler, é a desvalorização das ideias, dos pensadores
e da ciência. A considerar a velocidade com que livros e outros textos estão
sendo digitalizados e disponibilizados na internet, estamos no limiar de ter
todas as informações existentes no mundo ao nosso dispor. O problema é que,
quando chegarmos lá, não haverá mais ninguém para pensar a respeito delas.
Pode-se
acusar o ensaísta de nostalgia infundada ou ludismo. Porém, ele não está só.
Felizmente, há sempre um grupo de livres pensadores a se colocar contra o
conformismo massacrante das modas tecnológicas e comportamentais, nesta e em
outras eras.
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